Como fui tola o bastante para não perceber isso antes. Como fui boba ao acreditar que eu é que era a culpada por nossas noites desperdiçadas e nossas brigas intermináveis. Como não tive inteligência suficiente, logo eu, que sempre me gabei de pescar as coisas no ar, para entender e compreender que o único responsável era o meu passado.
Pensar que sempre fui a culpada por todos os momentos desagradáveis que tivemos, apenas porque eu era demais e passava da conta quando bebia, mesmo que uma pequena taça de vinho. Mal sabia que tudo era provocado pelo seu ciúme doentio em relação ao meu passado e pela sua forma grosseira de se expressar em relação a isso e contra mim.
Uma pena descobrir assim, uma pena saber que meu passado tanto te incomoda. Uma pena saber que a minha alegria e o meu jeito espontâneo de ser lhe causam tanta insegurança. Você me conheceu assim, alegre, viva, plena e agora não quer mais que eu seja assim.
Você quer me transformar naquilo que acha ser a mulher ideal, quer me transformar no seu modelo de mulher perfeita mesmo sabendo que ela não existe. Você quer toler a minha alegria, podar a minha felicidade.
Vamos viver então na sua redoma, vamos nos isolar no seu mundo e ficar presos no castelo de contos de fadas que você criou para não mais se lembrar daquilo que eu fui e que você quer que eu deixe de ser. Esconda-me do mundo, me tire de circulação e quem sabe assim você fique mais tranqüilo e me trate com menos rispidez.
Por favor, não ignore o meu passado, quem eu fui e quem eu sou. Por favor, não tenha medo de minhas histórias, porque hoje estou com você e apenas com você, mas carrego o meu passado no fundo do peito e não vou abandoná-lo, mesmo que você queira. Respeite-me para ser respeitado!
Não destrua o que estamos construindo e seremos felizes.
Mais uma noite perdida não, nós não merecemos, eu não mereço, eles não merecem.