Carioca quando quer consegue ser uma raça infeliz, e não só o carioca, mas o brasileiro em geral, de todos os estados. Essa infelicidade não é exclusiva do sudeste, assola também o centro oeste, o norte e o nordeste. Nos grandes centros a coisa acaba sendo mais sentida, pois a visibilidade é maior e a mídia, que dita os padrões, faz questão de reforçar as “tendências” absurdas que são criadas a cada estação.
Aqui no Rio a “tendência” do momento é que se você não conhece ou morou em uma favela, você não tem propriedade para falar sobre qualquer coisa relacionada e você não sabe o que é dificuldade. Você é discriminado por isso, porque é legal “conhecer” de perto uma favela e seus habitantes. As pessoas enchem a boca para dizer que foram no morro tal ou subiram a favela XYZ e ainda fazem questão de frisar que foi quando ela ainda não era “pacificada”, porque agora, é fácil. Elas dizem isso como se fosse algo de outro mundo, como se subir em uma favela fosse a experiência máxima que todo ser humano deveria ter.
As pessoas que moram em comunidade, são iguais a todas as outras. O milionário que mora na mansão, o trabalhador classe média que conseguiu comprar o seu espaço e todos que não moram em favelas tem os mesmos direitos e não podem ser taxados disso ou daquilo. Condição social ou moradia, não é moda e nem indicador de nada, cada um vive onde quer e pode.
Essa idolatria para com a favela e seus habitantes precisa diminuir, o produto do morro é fantástico, mas também temos pessoas fantásticas nos apartamentos, nos bairros, em conjuntos habitacionais e em vários outros lugares. Não é demérito nenhum ter vindo de uma favela ou morar em uma, mas isso também não torna ninguém especial ou intocável.