Primeiro o pé esquerdo, depois o pé direito. Não, primeiro o direito e depois o esquerdo. Porra, primeiro um e depois o outro ou então os dois juntos e vai do jeito que der... Saco! Porque é que eu fui beber aquela porcaria que ele comprou apenas para me embebedar, e olha que sou dura na queda, para conseguir me derrubar tem que ser das boas ou das piores e a dele era das piores, das muito piores. Ainda tenho que trabalhar, colocar calcinha, sutiã, saia, taiuler, me pentear, maquiar e todas estas coisas que uma mulher é obrigada a fazer para não parecer apenas mais uma no meio da multidão. Acho que nós fazemos isso apenas para sermos admiradas por todos, para sermos olhadas pelos peões, pelos carregadores, pelos office-boys, pelos executivos, pelos colegas de trabalho, pelo chefe, pelas colegas de trabalho e por todas as outras invejosas.
A mulher que me disser que não se veste para ser admirada com certeza está mentindo e muito. Qual a mulher que não gosta de ser chamada de gostosa? Mesmo sob condições adversas de temperatura e pressão, todas gostam de ouvir um elogio e não importa se ele é cafajeste ou não, elogios são elogios e como tal são para serem proferidos aos montes e ouvidos com atenção. Eu sei e todas as mulheres sabem do que podem e do que são capazes e por isso é que valorizamos o nosso melhor, a nossa parte mais importante e especial. Algumas abusam do decote, outras preferem as calças e saias mais justas, que valorizam a parte mais adorada pelos brasileiros e todas elas são felizes e fazem os homens felizes, cada uma a seu modo e a sua visão.
Eu graças a Deus sou completa e me sinto completa, gosto de instigar e de fazer com que os homens sejam instigados por mim, gosto de ser comida com olhares maliciosos e me sinto bem sabendo que sou parte do sonho e do desejo de vários homens e mulheres, parte do sonho deles e de suas fantasias mais secretas. Especialmente por conta de meu decote. Não que eu tenha seios enormes, mas eles são do tamanho ideal para serem exibidos em decotes, meia taças e afins. São roseos, firmes e seguros de si, não tem vergonha de serem como são e preferem as mãos seguras e firmes. As bobas e inseguras, aquelas que não sabem o que fazem com o conteúdo, quase sempre fazem besteira e nessas horas me sinto péssima por ter me deixado iludir e seduzir por um rostinho bonito, uma conversa melosa e um pouco de charme.
Agora vai. Consegui, levantei. Ufa! Graças aos ceús estou viva e em condições quase perfeitas para mais um dia. Cabelo em pé, cara por lavar, roupa por escolher, desamassar e vestir, sapatos por combinar com o estilo e com todo visual e depois de tudo isso ainda tenho que sorrir e parecer a lady que todos esperam que eu seja, em todos os sentidos.
A droga do carro não quer pegar e eu acho que vou precisar de um mecanico importado, prefiro ser enganada em outro idioma do que ser enganada no idioma local, pelo menos posso dizer que não, entendi o que ele estava falando. Oba, o motor deu sinal de vida e estamos andando, juntos, eu guio e ele vai. Ruas esburacadas e cheias de percalços, aqui vou eu! Chegar é fácil, o dificil é aturar as mesmas caras de todos os dias sempre da mesma maneira, elas não mudam e você é obrigada a engolir aqueles rostos falsos que sorriem mesmo sabendo que não vão ter aumento, que não são queridas, que o conjugue os odeia, que os filhos estão na escola, que as coisas em casa estão por fazer, que a vida não lhes foi boa e os mandou para o mundo sem condições de serem felizes e tudo o que eu teria horror e preferiria a morte. Graças a Deus eu sou bela, segura e bem sucedida, pelo menos profissionalmente. O amor é outra história, uma história bem complicada.
Porque o ser humano é assim? Porque as pessoas se contentam com pouco? Sempre com o pior e o com que lhes dizem que é o melhor para elas? Porque? Imaginem eu, linda e maravilhosa fazendo algo entediante e sem graça, imaginem eu fazendo algo insosso e sem sal, imaginem o meu salto sendo arrastado por um corredor sem fim apenas para cumprir uma etapa, mais uma em uma vida sem sentido. Parem de imaginar isso nunca vai acontecer, jamais!
Já pensei em casamento por um longo tempo e acho que hoje isso é mais dificil pois sou independente, ativa e atuante, prefiro os homens seguros e aqueles que sabem o que querem e fazem o que querem, sem ter de consultar o extrato bancário e nem a mãe ou os filhos. Os homens se assustam com mulheres indenpendentes, para eles a mulher tem que estar sempre a disposição para o que der e vier, para todas as horas e para todos momentos. Ser trocado por uma reunião ou por um compromisso inadiavel é inadimissivel para eles, isso tudo porque uma mulher tem que ser mãe, esposa, amante, namorada e dona de casa, tudo isso ao mesmo tempo e sem intervalo, só prorrogação.
Eu tenho pena daquelas que chegam do trabalho e ainda arrumam a casa, como?, dão de comer para os filhos, preparam as coisas para o dia seguinte, o jantar e tem que estar lindas, cheirosas e perfumadas para o “garanhão”, que vai chegar do trabalho depois do chopp com os amigos sedento por um prato de comida e uma noite de sexo, na verdade apenas alguns momentos de sexo e uma noite de sono. Como elas conseguem ainda dizer e achar que são felizes? Acho que da mesma maneira com que aceitam esta vida e não fazem nada para muda-la e torna-la melhor, da mesma maneira com que acordam todos os dias e olham para as paredes a procura de uma resposta para os mistérios da vida e para o barrigudo ao seu lado roncando. Tudo isso por uma convenção que lhe disseram ser a mais acertada, tudo isso apenas para estarem inseridas dentro do contexto e para poderem ser apresentadas como a mulher dele em uma dessas festas de empresa, uma destas reuniões de “amigos”, “conhecidos” e afins, apenas isso.
Vale a pena trocar o prazer de uma boa trepada, no sentido literal e sem eufenismos e palhaçadas, uma trepada é uma trepada e pronto, por uma vida entediosa e sem prazer? O ser humano é feito de prazer e o sexo é um prazer que temos e que por enquanto, tirando o motel e a camisinha é gratuito. Eu adoro! Na verdade eu não consigo viver sem uma boa trepada, um bom sexo, pois apesar de ser uma mulher eu tenho liberdade e coragem para falar o que eu sinto e o que eu penso, temos de parar com essa coisa de mulherzinha, de lady, de submissa e de idiota. Somos mulheres, temos sentimentos e desejos como todo o ser humano normal e saudavel. E viva os sentimentos!
Já pensei em casamento por um longo tempo e hoje vejo o porque não penso mais, tudo é culpa das propagandas de margarina, das malditas propagandas com uma familia feliz que não retratam a realidade da escrava descabelada de joelhos limpando o chão da cozinha enquanto o “homem pança” pede, na verdade exige, mais uma cerveja e silencio para que ele assista a XV de jaú e Piracicabano pelo campeonato paulista de amadores e sem noção. A vida da maioria das pessoas é essa e pronto, esta é a realidade e não o que vemos nas novelas e nos anuncios de margarina. Fora os anuncios de margarina, fora para todo o sempre! A vida não precisa deles e nós não precisamos de mais ilusões, precisamos de coisas reais, de valores reais, de pessoas reais e de nossa vida real, mesmo que isso nos doa por dentro e por fora. Eu preciso de sexo.
Porque essa pilha de relatórios na minha mesa se eu sou apenas uma e como apenas uma não tenho condições de analisar todos eles? Porque eu sou a tal e como a tal eu tenho que assumir certas resposabilidades que me dão trabalho mas que me fornecem capital suficiente para as compras do mês, superfulos previsiveis, mas superfulos indispensaveis e outras coisinhas mais como tudo aquilo de que uma mulher precisa para se sentir bem consigo mesma e em paz com o mundo.
A minha relação com os homens é previsivelmente normal, eu os conheço a fundo e consigo analisar cada um deles apenas por seus gestos, hábitos e seu modo de vestir. Os homens são previsiveis e como tanto e portanto fazem com que tenhamos cada vez mais trabalho para fugir do lugar comum e escolher um que valha a pena. Nos dias de hoje é facil distinguir mais quase impossivel de escolher no meio de uma saara de tipos o homem perfeito, que na verdade não existe e separa-lo do trigo tal e qual o joio. Minhas escolhas em sua maioria são basedas nos critérios da natureza, o vigor fisico, a cara de homem e o estilo de ser original. Cada vez tenho mais dificuldade. E quem não tem, todas temos e mesmo assim vivemos para ser felizes e para encontrarmos a nossa cara metade, a outra parte do quebra-cabeças que é a nossa vida.
Muitas se deixam iludir pelo cara de terno, aquele vendedor da Barça ou da Enciclopédia Britanica, que se veste bem com ternos usados e tem a enfadonha aparência de um “nerd” fantasiado de ser humano. Outras caem no conto do moderninho, aquele que veste camisa rosa e calça colada no corpo, passa gel no cabelo e creme no rosto. Esse se diz homem, o chamam de metrossexual, mas para mim é mais um esperando a chance de sair do armário.
Inventam denominações, designações, etiquetas e adjetivos para classificar o homem de hoje. Antigamente nossas mães e avós não precisavam de nada disso, elas tinham apenas de escolher entre os vagabundos, neo-hippies e afins ou os certinhos, que eram divididos em militares ou funcionários públicos. Tudo bem mais simples e fácil, os certinhos eram sem sal mas se mostravam ótimos pais de familia e os vagabundos tinham sal as vezes em excesso, mas na maioria dos casos não serviam para pais de familia.
- Ceasar ou americana?
- Hum... Me deixa ver... Filé grelhado?
- Quiche de legumes.
- Arroz integral?
- Vamos direto no vegetariano então.
- Ok, comida chinesa!
- Você nunca larga esse habito, demora horrores para escolher o que vai comer e no final acaba sempre optando pela mesma coisa. Não sei como consegue viver assim, nesse eterno dilema alimentar.
- Querida, os deuses me deram esta forma esbelta e esse corpo maravilhoso, portanto não posso estragar o que tenho de melhor. Meus critérioa alimentares estão completamente de acordo com minha dieta nutricional e isso me faz muito bem. Agora chega de papo e vamos logo almoçar por que estou um caco e se não colocar alguma coisa dentro do estomago posso não chegar viva ao final do dia.