quarta-feira, março 01, 2017

Todo carnaval tem seu fim

todo carnaval tem seu fim

Não fará a menor falta ver escolas de samba desfilando pela suntuosa avenida se ano que vem ao invés tivermos blocos tradicionais arrastando a multidão. Não fará a menor falta a transmissão dos desfiles se ano que vem no lugar a Vênus platinada exibir a reprise de uma novela ou um filme daqueles que já passou milhares de vezes na sessão da tarde.

Quem estiver disposto a ser enganado por resultados forjados, tramas de bastidores e grana que rola solta, pode continuar a pagar uma pequena fortuna para assistir aos desfiles diretamente na fonte. Gosto muito de carnaval, gosto dos blocos, do tempo sabático, da animação, mas não gosto da indústria em que se transformaram os desfiles e do uso que se faz da imagem de pessoas que nada ganham para estar ali, se doando para o "show".

Tudo na vida tem um fim e para mim, com toda a sinceridade, esse ano, poderia ser decretado o fim de toda essa encenação sem nexo e sem sentido.

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E viva a Azul, Vermelha, Amarela, Verde e Branco

E viva a Azul, Vermelha, Amarela, Verde e Branco

A cada ano aumenta o escárnio, a falta de respeito e de vergonha na cara. O carnaval, esse em que o povo brinca, se diverte nos blocos e ou descansa, vai bem obrigado. O comércio, a manipulação, a cara de pau e a armação que é o desfile das escolas de samba também vai bem, vai bem mal e não tem mais sentido nenhum.

O desfile das escolas de samba só existe porque existem otários, digo pessoas, que pagam por ele. São gringos deslumbrados, "torcedores" apaixonados e iludidos, rede de televisão e outro tanto de gente que acha que papai noel vira em Dezembro. Não existe essa coisa de espetáculo, de show, de alegria. O que existe é tão somente um mercado que se alimenta, a cada ano de forma mais voraz, de grana, muita grana.

O amor se foi com as cordas dos desfiles da praça onze, com a megalomania dos efeitos pirotécnicos, a "grandiosidade" dos carros alegóricos e a vontade cada vez maior de se ganhar mais e mais dinheiro. Os sambas enredos são "fabricados", seguem um padrão, tal e qual receita de bolo, são todos feitos na mesma forma. Os enredos são patrocinados, leva quem da mais e não quem tem um boa ideia.

Foi-se o tempo em que fazia sentido acreditar que a força da comunidade faria a diferença. Foi-se o tempo em que a harmonia contava pontos e que "buracos" durante o desfile tiravam pontos. Hoje vale o que é combinado nos bastidores alguns meses antes dos desfiles, vale o que se acerta através de notas de cem reais em transferências bancárias para as contas de quem comanda o show e dita as regras. Ganha a escola que tiver mais cacife, a que tiver um caixa maior para "bancar" o show e para ser feliz.

Hoje ganha a Azul, Vermelha, Amarela, Verde e Branco, mas perde-se o que antes era só a vontade de fazer bonito com samba no pé e na garganta.

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Técnica x emoção

tecnica x emocao

A técnica se sobrepõe a emoção e por conta disso nem sempre a escola que mais empolga e agrada ao público é a que “vence” o carnaval. Jurados enxergam os detalhes, veem aquele fio solto na fantasia das baianas, observam aquela lâmpada de led apagada no carro abre alas. Jurados têm olhos de lince.

O publico, a massa, vê o brilho e a beleza da escola de coração, por isso que dificilmente aceita quando uma escola fria, que passa sem emoção, ganha as maiores notas. Eles não sabem que os jurados de bateria podem identificar um tamborim, em meio a mais de trezentos ritmistas, desafinado e por isso, é que tiram um décimo da escola preferida da maioria.

A emoção só se sobrepõe a técnica quando todas as escolas erram além da conta e nesse caso os jurados tiram menos pontos da escola que desfilou com mais amor no coração.

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Alá, laô

ala lao

O bloco dos descontentes esse ano passou bem mais tranquilo, as reclamações foram suaves e ao que parece a grande maioria descobriu que pode passar o carnaval sem se preocupar com a alegria alheia.

Todos os anos os que não gostam da folia, mas aproveitam os cinco dias de feriado, insistem em mal dizer os desfiles, os blocos de rua, os trios elétricos e todo o resto. Eles acham que com suas lamurias estão fazendo um grande favor à sociedade e que no próximo ano não teremos carnaval.

Não gostar de algo é totalmente compreensível, mas querer que esse algo deixe de acontecer por pura birra, é algo que não faz sentido.

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Fofurices

fofurices

- Cabecinha linda, mulher da minha life, coisa rica do papai... O que você deseja?
- Desejo tudo de bom para você e todos os seus.
- Você é parte dos meus.
- Sim.
- Que bom.

Sobe o tom. Aumenta um pouco o volume e tenta não chorar. Controla a emoção. É festa.

- Vamos brindar?
- Á mim?
- Á nós.
- Debaixo dos lençóis para rimar ou em qualquer outro lugar só para contrastar?
- Por cima dos lençóis para implicar.

Abaixa o tom. Diminui um pouco o volume e tenta não rir. Descontrola. Perde o tino e faz uma loucura. O ritmo é de aventura.

- Corta!
- Para!
- Segue!
- Eu te amo!
- Também te amo, mas preferia que não estivesse tanto calor.

Imagem do post: Tumblr / Morningstar

Puro álcool da fruta

puro alcool da fruta

Só um limão. Um misero e único limão para fazermos um litro de caipirinha. Quem não sabe fazer contas, quem não tem o mínimo conhecimento de causa, pode pensar que esse limão não é suficiente. Com anos de experiência na preparação dos mais diversos drinks e bebidas, categoricamente posso afirmar que com um só limão é possível fazer até dois litros de caipirinha.

Bastante gelo. Muito gelo. Açúcar, não muita. Limão, esse único que temos. Cachaça e só.

Misture tudo em um recipiente grande e pronto. Um litro de caipirinha com apenas um limão.

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Pequeno atraso

pequeno atraso

Primeira, segunda, terceira. Não engatamos a quarta marcha por pura falta de tempo hábil para darmos inicio ao segundo tempo da operação lua de mel antecipada. Casamento às pressas, sua família aflita, convidados nervosos e nós dois presos dentro daquele quarto de hotel. O telefone não parava de tocar e enquanto você recolocava o vestido eu respondia as mensagens do Whattsapp.

Sua mãe histérica mandou um áudio de cinco minutos esculhambando a porra toda. O padre abandonou a igreja e o seu tio Carlos, já um pouco tonto depois de algumas doses de uísque disse que tinha condições de fazer o casamento.

Você levou tempo demais retocando a maquiagem, o UBER se perdeu e não achou o hotel, resultado disso tudo, chegamos atrasados ao nosso próprio casamento. Coisa de umas três horas, nada demais.

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Despedidas são sempre assim

despedidas sao sempre assim

O seu beijo foi tão longo e profundo que ainda me pergunto por que você se foi. Saímos pela mesma porta e você virou a direita, entrou em seu carro e partiu. Minha ultima visão foi a do seu rosto calmo e sereno olhando fundo em meus olhos. Despedidas são sempre assim, desse jeito sofrido, dessa maneira estranha e desnecessária. Despedidas não deveriam acontecer.

Nosso caso não foi por acaso como tantos outros. Conhecemo-nos no jardim de infância e você era só uma menina pirracenta e mimada. Eu era um menino cheio de sonhos, além dos recheados de doce de leite. Estudamos juntos até o ginásio, quando você se mudou para Curitiba e eu fiquei em Londres.

Quinze anos depois nos vimos em uma praça de Nova Iorque, trocamos olhares, mas não nos falamos. Você já estava de braços dados com outro e eu, tímido, não quis incomodar o casal. Nosso filho nasceu em Dezembro daquele ano. Fui promovido em Abril. Fez frio no inverno. Não viajamos no feriado.

Imagem do post: Tumblr / Redheads be here

Três horas. Trinta e cinco dias.

tres horas trinta e cinco dias

Trinta e cinco dias em três horas. Trinta e cinco dias sem noticias algumas de ninguém. A ilha tão deserta estava agora habitada por cento e cinquenta pessoas e não pode mais ser considerada deserta.

Uma tribo de seres indiferentes a tudo tomou conta da ilha e dele nunca mais saiu. Sem recursos naturais era esperado que eles não resistissem, mas eles resistiram e ainda habitam a ilha. O tempo necessário para o fim surpreendeu a todos afinal foram trinta e cinco dias em apenas três horas.

Noventa e cinco mulheres e cinquenta e cinco homens não sobreviveram e em três horas foram dizimados por uma enorme vontade de serem mais do que meros habitantes de uma ilha outrora deserta.

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