Aqui em nosso contrato consta que eu lhe amo. Olhei nas letras miúdas e nas disposições legais e realmente não encontrei nada que afirmasse o contrário. Diante do exposto e de tudo o que está implícito e explicito, não tendo nenhuma das partes nada em contrario, eu posso afirmar que este contrato é válido e eu lhe amo de verdade.
É uma pena que eu não seja o homem certo para você, do mesmo modo que aquela garrafa vazia não continha o liquido que tanto desejávamos, aquele que nos transformaria no casal perfeito da vida real inventada.
Os seus longos cachos dourados estiverem em minha mente por tanto tempo, que hoje, depois que você os cortou, ainda consigo vê-los emoldurando o seu rosto. Eles faziam um belo par com os seus olhos verdes e seus lábios volumosos, uma pena essa sua decisão de cortá-los, tal e qual a nossa decisão de não mais continuarmos juntos.
O contrato que afirma que eu lhe amo de nada tem serventia se decidimos que ele deveria ser solenemente ignorado no momento em que nos beijamos pela ultima vez. Sim, era uma manhã de outono e você estava com seu ar primaveril a me fitar por debaixo das lentes de suas lindas armações de marfim.
Eu apenas estava lá, um rapaz perdido no meio do milharal, sem saber muito bem aonde ir e nem porque partir. Beijamos-nos como dois adolescentes em meio à puberdade e despertamos como um casal que já vivia junto por décadas, mas nada disso foi suficiente para manter a nossa chama. Ela não se apagou, apenas não teve forças para continuar a nos aquecer.
Perdi alguma coisa da sua vida enquanto sonhava com uma casa no campo, você sempre quis morar na cidade e isso um dia nos colocaria em conflito. Eu iria para cidade sem problemas, mas você jamais me acompanharia no campo.
Perdi toda a sua vida enquanto sonhava com nós dois, você sempre quis ficar sozinha e isso um dia, nos colocou em conflito. Eu ficaria para sempre ao seu lado, mas você nunca esteve ao meu.