sexta-feira, junho 09, 2017

Caminhantes

caminhantes

Por toda extensão da via podemos ver carros estacionados como que em procissão, uma procissão de carros. O percurso não é dos maiores, não chega a uma maratona, mesmo assim demoramos mais de três horas para percorrer a costa oeste. Um dia nublado, muitas nuvens no céu e um clima estranho. Fumaça saindo das chaminés, lareiras a todo vapor, pessoas encolhidas dentro de seus casacos de lã e um frio cortante nos levando a entrar na primeira lanchonete que encontramos.

- Dois cafés bem quentes.
- Torta de maçã?
- Chessecake para mim.
- Aceito a torta.

Ficamos ali por cerca de uma hora conversando sobre ontem à noite, sobre os pedaços jogados sobre a mesa, sobre aquilo que não compreendíamos, mas que insistíamos em tentar compreender. Conversamos sobre muitas coisas. Perdemos aquela inibição inicial de dois desconhecidos, rimos como se já nos conhecêssemos há muito tempo, talvez até como se fossemos íntimos.

Ontem a noite fez mais frio do que agora. Ontem à noite dispensamos os casacos e nos aquecemos com nossos corpos. Saímos da lanchonete mais tranquilos, menos preocupados com os acontecimentos do passado, mas não ficamos pensando no futuro. Não queríamos criar uma historia que nunca iria acontecer. Fomos sinceros um com o outro enquanto bebíamos cada gole de café. Pagamos a conta da lanchonete com o único dinheiro disponível e não tínhamos nada para pegar uma condução, por isso continuamos a pé mais alguns quilômetros até o posto de gasolina.

- Boa tarde amigo estamos caminhando desde a Thompson Square e não temos nenhum dinheiro conosco, você poderia nos ceder um pouco de agua?
- Viajantes?
- Caminhantes.
- Daqui?
- Memphis.
- Elvis.
- Sim.
- Tem uma torneira embaixo do galpão, sirvam-se a vontade.

Imagem do post: Google

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