Lê com crê, samba do crioulo doido, bananada com jiló e todas as misturas inusitadas que você possa imaginar. Não dá certo e não tem como dar. Fato.
É com alegria que vejo a “molecada” voltando as suas baterias para o samba e o fazendo com alegria, entusiasmo e qualidade. Muita, diga-se de passagem. Não quero parecer aqui o cri-cri ou o critico chato de jornal que só se importa em ser do contra.
O que quero é justamente enaltecer o trabalho dos novos “talentos” e incentivá-los a continuar, mas para isso preciso tecer alguns comentários a respeito.
Ontem eu estava disposto a ir para casa, queria apenas descansar e quando me vi estava no ensaio do Escravos da Mauá, o último antes do desfile. Não gosto do “estilo” do ensaio do Escravos da Mauá, mas vale pela diversão e pelas pessoas.
Já indo embora vi que a Pedra do Sal estava movimentada novamente e por um instante, pensei se tratar da volta do Arruda, mas quem estava lá era o pessoal do Samba de Lei. Uma turma competente e esforçada.
Samba de uma nota só
A minha “implicância” com o pessoal do Samba de Lei, que conheci ontem, é que eles são adeptos da mistura indiscriminada de “ritmos” e “batidas” em uma mesma seqüência e os pobres músicos são obrigados a malabarismos mil para fazer com que uma melodia se encaixe com outra totalmente fora do tom. A mistura improvável se mostra desastrada e tudo fica com cara de samba de uma nota só.
Posso dizer com certeza, que ontem tudo o que ouvi do Samba de Lei, tinha a mesma cara e isso me incomodou. Fiquei até o fim e vou voltar para conferir e evolução do pessoal.
Alisando couro
Uma das coisas quem mais me chateia é ver músicos alisando o couro dos instrumentos. Uma peça é feita para ser tocada, batida e não alisada. O rapaz do tantã fez o seu trabalho, sozinho, com louvor e segurou a roda à noite toda. Sabia todas as letras e “marcou” o samba sem comprometer o todo.
O violão de sete cordas é um primor e abrilhantou a noite dando a mínimo de “sabor” que a roda teve.
De resto o que vi foram tentativas infrutíferas de acompanhamento. Instrumentos sem “força”, sem brilho, sem identidade. Apenas estavam lá tamborins, balde, chocalho, agogô e pasmem, um repique mudo. Foi a primeira vez que vi um repique que não emitia som, era mera peça decorativa que de vez em quando era manuseada por um dos músicos da roda.
Bota dendê no meu caruru
Falta muito, mas muito tempero ao Samba de Lei. Todos, sem exceção, sambas tocados ali tinha a cara da monotonia. Clássicos do partido alto se transformaram em canções de ninar e fiquei triste de ouvir A semente do grande Bezerra e Lendas da Mata do grande João Martins, sendo interpretadas da maneira que foram. Faltou pegada.
Não sei se a falta de peças, um surdo de marcação, por exemplo, foi o motivo da falta de “pegada” do samba, mas acho que os instrumentos que eles tinham dariam conta do recado se fossem “tocados” de forma “correta”.
Ajudaria também, se o vocalista, cavaquinista e “líder” do grupo, fizesse seqüências homogêneas de sambas com o mesmo compasso e não colocasse partidos junto a sambas mais suaves. Imagine o samba da União da Ilha, clássico das rodas de samba, Festa Profana, sendo tocado no mesmo ritmo de Quem te viu, quem te vê, do Chico Buarque.
“Virar a roda” é algo comum de se ver, mas virar e revirar indiscriminadamente é ruim de ouvir.
Descontração e cara de povo
Gostei da descontração com que o pessoal faz as coisas, a roda fluiu tranqüila e serena, na medida do ritmo que eles imprimiram a noite toda. O que foi ruim para muitos sambas que perderam sua essência e ficaram com cara de pão de forma, todos iguais, foi bom para o clima da roda.
O “líder” do Samba de Lei é carismático, tem uma bela voz e canta de tudo um pouco. Talvez esse seja o seu maior “problema”, pois por cantar de tudo um pouco ele quer misturar tudo ao mesmo tempo sem unidade alguma. Sorte a dele também, o cara o tantã ser super competente e segurar a roda na sua ausência, não foram raros os momentos em que ele deixou a roda ela seguiu “sozinha”.
Sobre o seu cavaco, ele aparece, mas em geral apenas para pontuar as canções e deixa todo o brilho das cordas para o violão de sete, esse sim, mostra personalidade e se apresenta para o jogo. Bota a cara e mostra a que veio. Parabéns.
Volta garantida
Com certeza estarei lá conferindo o trabalho da rapaziada na próxima sexta e torcendo para que eles acertem o “tom”. Um samba menos homogêneo e com mais tempero é o que peço que eles façam.
Outra coisa que eu não gosto e não acho que seja praxe, pelo menos das rodas que eu freqüento não é, é terminar a noite com sambas para “baixo”. Todos adoram Cartola, mas finalizar a roda com As rosas não falam e Meu mundo é um moinho, dá aquela deprê de fim de noite. Em minha opinião, bola super fora.
Na verdade, a noite terminou com marchinhas de carnaval, mas como todas elas foram tocadas no mesmo ritmo, para mim foi totalmente desnecessário.
Desejo ao Samba de Lei muito sucesso em sua caminhada pelo mundo do samba e que eles possam trilhar o caminho de tantos outros que estão por aí animando as noites e a vida de muita gente que precisa apenas de um bom samba para ser feliz.
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Ps.: Ver o pessoal da bateria do Escravos da Mauá se perguntar e me perguntar se não haviam instrumentos ali, me deu vontade de pedir a eles que dessem uma “força” com o que eles estavam levando, em especial com o repique deles, que não devia ser mudo.