Antes de começar a pensar em tudo o que aconteceu entre nós, eu sorvi mais um gole de vinho. Aquele vinho que comprei para comemorar o nosso aniversário de namoro. Faríamos dois dias de namoro hoje, justamente quando você resolveu que não dava mais e me abandonou.
O segundo dia teria sido um passo importante em nossas vidas, teríamos sobrevivido ao que os casais chamam de “síndrome do segundo dia”, que é quando a maioria deles acorda e vê que a pessoa que conheceram na noite anterior não é aquela com quem querem passar o resto de seus dias.
Conosco foi diferente ou pelo menos tinha tudo para ser. Nos conhecemos na casa da Aninha e ela estava fazendo uma daquelas suas festas chatas de doer. Aquela festa em que ela chama toda a cidade e um bando idiotas se posta a elencar seus bens, enquanto que outro grupo de boçais se embriaga de vodca barata com energético.
Eu não iria a esta festa, mas a Aninha fez questão de me buscar em casa, se bem que ela já estava aqui, dormimos juntos na noite anterior. Rolou, nada demais, ela estava sozinha e eu também, nos beijamos e aconteceu. Não foi uma transa dos deuses, foi uma coisa bem mais carnal mesmo, eu estava afim e ela também.
Até agora não sei como você, uma menina bonita e inteligente, foi parar na festa da Aninha. De certo alguma amiga sua e da Aninha também, a arrastou para a furada. Enquanto termino a minha taça e meia de vinho, me pergunto, porque você foi tão linda a festa?
Parei de olhar para a janela insistentemente na esperança de não ver mais o seu rosto refletido no vidro. Idiota eu fui quando permiti que você, um dos mais idiotas que conheci, me tirasse para dançar. Você até que dança bem, mas o seu perfume estava forte demais.
Lembro-me que você apertava a minha mão como se eu fosse lhe escapar entre os dedos e eu suando frio tentava a todo custo não respirar o seu desagradável perfume. Era amadeirado demais. Lembre-se, mulheres preferem os levemente amadeirados e não os extratos de jacarandá concentrado.
Idiota. Depois de me beijar você me fez aquela proposta indecente que todos fazem. Quis me mostrar a sua coleção de gibis do Batman e o pior é que eu aceitei e gostei. Quase roubei o seu número 21 do ano zero, aquele com os traços feitos pelo Jim Lee, mas você percebeu e tirou da minha mão. Tolinho, eu ia devolver, um dia.
Conversamos por horas na casa da dona da festa que nem sei quem era. Sei que era conhecida do carinha com quem eu estava saindo e foi ele quem me levou a festa. Depois de algumas horas ele foi embora e me esqueceu lá. Legal, minha noite estava apenas começando e você foi logo me oferecendo uma bebida para “passar o tempo”. Eu não devia ter aceitado aquela vodca barata com energético, pois estava claro que queria me embebedar.
Você é desses que embebeda as mulheres para sair com elas mais facilmente? Pois se for saiba que comigo isso não funcionou, eu cai aquelas duas vezes nos seus braços apenas porque perdi o equilíbrio e as palavras desconexas que proferi foram momentos de confusão mental.
Passou e foi bom. Você me deu uma das melhores noites da minha vida e aquele macarrão que comemos no almoço, estava horrível. Só para você saber.
Estou aqui terminando a minha taça de vinho e espero que você não tenha ficado chateado de eu ter saído enquanto você lavava a louça. Ainda tenho aqui comigo uma taça e meia e ela está muito boa para me fazer esquecer você.