Enquanto assistimos com felicidade o renascimento do carnaval de rua no Rio de Janeiro, vemos com pesar o fim dos desfiles das escolas de samba. Um dia o desfile teve seu encanto e a sua magia, mas hoje é apenas um enfadonho mar de gente passando para lá e para cá.
Com exatamente um ano de antecedência, os mais informados, já sabem a escola campeã do ano seguinte e nem precisam recorrer a mãe Dinah ou realizarem bolões. O resultado dos desfiles é decidido nos bastidores e as desculpas também já são previamente preparadas.
Se uma escola segue a tradição ela não ganha porque foi tradicional demais. Se uma escola decide inovar, ela quis inventar demais. Todo ano é a mesma coisa, não tem jeito.
A Estação Primeira de Mangueira, por exemplo, há alguns anos não vencia carnavais e a desculpa dos jurados no final era sempre a mesma: “A mangueira é tradicional demais, não inova, não cria, não empolga...”.
Esse ano a Mangueira decidiu inovar, sair da “mesmice”, criar e mais do que isso, empolgou. Sabem o que aconteceu? Ela não ganhou o carnaval porque se afastou das tradições, quis inventar demais, fugiu do convencional.
Não existe, mas deveria, um manual para que as escolas pudessem previamente se adequar as “exigências” do corpo de jurados. O mestre sala e a porta bandeira só podem rodar tantas vezes em torno do próprio eixo, a bateria não pode fazer uma paradinha de mais de tantos segundos e por aí vai.
Tenho certeza que as coisas ficariam mais claras e em caso de dúvidas a globo teria o tira teima e o Arnaldo César Coelho a disposição.
“Vejam no replay que a rainha de bateria não rebolou em frente à dispersão e isso, pelo regulamento é proibido. Arnaldo.”
“A regra é clara, tinha de ter rebolado. O jurado acertou ao tirar um décimo da escola e poderia ter tirado mais.”
Já que querem e infelizmente estão conseguindo pasteurizar as coisas, ficaria melhor com critérios pré definidos. A emoção dos desfiles, a expectativa da apuração, já não existe mais há anos. Tirando as letras dos sambas, que são diferentes, o andamento e a melodia deles são todas iguais.
A bateria da Mangueira esse ano quis surpreender e conseguiu, uma pena que na hora em que isso aconteceu os jurados do quesito tinham ido ao banheiro e não virão a brilhante execução de uma paradinha de mais ou menos vinte segundos.
Felizmente na hora da Beija Flor e do Roberto Carlos, todos estavam lá de olhos bem abertos e viram todos os detalhes “maravilhosos” da escola. Dizem que o verde predominou e foi o que mais os jurados comentaram, mesmo tendo a Beija Flor as cores Azul e Branco.
Foi-se o tempo em que a comunidade desfilava para o povo aplaudir. Hoje estamos na Broadway da Sapucaí, onde os turistas e artistas contratados pelas cervejarias assistem ao “espetáculo”.
Carnaval do povo e da comunidade é na rua atrás dos blocos.