Você ignorou meus apelos, não ouviu minhas suplicas. Sumiu do mapa sem nada dizer e nunca mais voltou. Saiu da minha vida como quem abandona uma casa em chamas. Apagou meu nome da agenda, exclui meu perfil da sua rede social e desapareceu.
Ainda era domingo quando a chaleira apitou. O chá de camomila aqueceu o corpo, acalmou a alma e despertou em mim instintos que pensava ocultos. Você desceu as escadas sem nada nos pés, pisando leve como quem não quer ser notada, passou por mim e sorriu.
Assim que acordei na quarta e reparei os lençóis, vi que você ainda estava na cama. Ao meu lado, desnuda e fria. Não quis lhe aquecer, fui ao banho e de lá sai para ver o mar. Um suspiro e você estava ali comigo, mais uma vez ao meu lado, só que desta vez vestida e quente.
Não quis lhe esfriar, fui ao bar e de lá sai para voltar ao nosso lar. A casa que construímos não é mais a mesma, mas moramos lá porque ainda precisamos esquecer quem somos, cortar os laços e aí estaremos livres para alçar outros vôos.
Segunda-feira transamos por transar e como na terça, você me disse que precisava de inspiração. Pintamos as janelas de azul, compramos vinho barato e transamos com a luz acesa, mas alguma coisa estava errada. O relógio só parou de apitar quando sai do sofá e você me beijou dizendo que já ia deitar.
E foi deste modo que perdi meu bem mais precioso, foi assim que a cortina se fechou. Ainda era sexta e o sábado não ia chegar tão cedo. A chaleira só apitava aos domingos, na quarta íamos à praia e na quinta, justamente na quinta, você achou melhor ir para bem longe.