- Menina, garro um ódio daquela coisinha ruim da novela, que chego a ficar vermelha!
- Eu não, já garro ódio daquela magricela que quer vingar o pai e nunca que vinga ninguém.
- E tonto do marido?
- Aquele lá minha filha nem com reza braba e olhe que disso eu entendo.
- De marido tonto?
- Não, de reza braba.
- Não sabia... Para mim você ainda estava na igreja. Largou os cultos?
- Larguei não, mas hoje em dia é um olho no gato e outro no peixe. Um cadinho a mais de proteção não faz mal a ninguém.
- Mas o pastor deixa?
- E se não deixa... Vou direto a casa dele para mó de rezar a família e espantar a coisa ruim. A menina coitada, tava começando a querer ouvir funk.
- E deu jeito?
- Claro que deu, mandei tascar lhe a bolacha e rapidinho ela se endireitou.
- Ué, mas não foi com a reza?
- Para certas coisas minha filha o que resolve mesmo é pancada. Eu mesmo apanhei muito e estou aqui. Melhor apanhar de pai e mãe do que da vida.
- Isso é mesmo, ainda mais hoje em dia que tudo é na base da morte.
- No nosso tempo ainda saíamos com o olho roxo, hoje vai direto para o cemitério.
- No seu tempo você quis dizer, porque eu sou bem mais nova que você.
- Você? Tu deve de ter só um ou dois anos menos que eu, e olhe que acho que se bobear é mais velha.
- Eu? Mais velha? Espia só suas rugas mulher. Isso é cara de cansada, cara de quem o tempo maltratou.
- Minha cara é cara de pobre, se fosse rica passava uns creme e ficava melhor. Agora engraçado é você, toda errada, com essa barriga e esse corpo torto, querer falar de mim. Tem espelho em casa não?
- Nossa senhora, o pastor precisa falar mais com você. Perdeu a noção da coisa mulher? Tá beirando os sessenta, cheia de buraco pelo corpo e acha que pode. Melhor é tú fazer umas rezas para ver se tu melhora, porque tá brabo pro teu lado.
- Se enxerga! Eu tenho quarenta e cinco e olhe lá. Vá se catar sua invejosa! Não pode ver alguém bem cuidada que já quer falar mal. Parei contigo. Tchau!
Silêncio...
- Ah Creide, manda um abraço pro Antemar!
- Mando sim! Dá outro no Wilson!