Odeio quando acordo e vejo que você está ali, parado como um bobo, sentado na cama, me olhando. Parece um daqueles cachorros esfomeados vendo um prato de comida, só falta latir. Por vezes esboço um sorriso quando penso no ridículo da situação de te ver fazendo este papel ridículo. Perco um bom tempo achando que você vai se tocar, levantar e me deixar terminar de dormir em paz, que começo a revirar os lençóis na tentativa vã de que entenda que preciso de espaço. É horrível dormir com alguém observando como se fosse um psicopata, e juro, às vezes eu tenho a impressão de que você é um.
Gosto de encostar no seu peito, apenas por encostar, para descansar, mas me angustia pensar que você fica me apertando e quase me sufocando. Tenho dificuldades de respirar e de me mexer enquanto seus braços deixam marcas na minha pele de tanta força que você faz. Qual a dificuldade de apenas curtir o momento?
Odeio aquele vestido florido que não sei por que, comprei no ultimo verão. Achei-o muito bonito na loja, vestido no manequim, mas ao chegar em casa vi que não caiu bem em mim. Por alguma obra do destino, você resolveu que o tal vestido é a sua predileção e vive pedindo para que eu o use todos os dias. Quando não tenho nada para vestir, todas as roupas estão na lavadora, o coloco para ficar em casa, sair à rua com ele nem pensar.
Odeio quando conto as coisas para você, especialmente os episódios que me tiram do sério e você fica me olhando com cara de paisagem. Como eu gostaria que você resolvesse as coisas e não ficasse achando que sou a mulher maravilha. Sei me virar, mas às vezes preciso de alguém que me defenda ou que pelo menos me mostre que se eu precisar vai estar disponível para fazer isso.