Um burro, um camelo e um urubu, malucos, caminhavam pelo deserto do Saara em busca de alimento. Caminhavam devagar, cada qual a sua maneira, de cabeças baixas e semblante sério, pensativos. O burro parecia esgotado, enquanto o urubu demonstrava claramente já não mais estar aguentando as penas do corpo. Único a ainda parecer ter forças para prosseguir, o camelo para de repente e diz em voz alta:
- Vejo agua! Vejo uma fonte cristalina de precioso liquido suficiente para saciar a sede e nos permitir seguir, mas como não tenho sede deixo que você burro, vá e refresque-se.
O burro levantou a cabeça, olhou fixamente para frente e falou com o que lhe restava de forças:
- Tenho sede, muita, agradeço a oferta, mas não vejo agua a minha frente.
- Como assim não vê a linda fonte de agua cristalina? – Bradou o camelo bastante irritado.
Avesso a tudo, mas sabedor do que a loucura de ambos poderia causar, o urubu resolveu se pronunciar:
- Ambos estão errados! Você camelo, está sendo acometido por visões, miragens, já não mais está de posse de suas faculdades mentais e por isso está vendo agua onde não há agua. Nem por isso burro você está certo, pois onde você areia há na verdade um mercado e neste mercado podemos encontrar comida e agua. Temos que ser cautelosos, mas devemos buscar aquilo que nos mantenha unidos até o fim de nossa jornada.
- E qual é a nossa jornada? – Perguntou o burro demonstrando profunda desilusão.
- A nossa jornada é em busca de conhecimento, de paz, de contemplação. Enquanto não compreendermos que a união de nossos esforços é o que pode nos levar a plenitude, vamos continuar vagando sem rumo.
Perplexo e sem entender, o camelo resolveu continuar a caminhar e foi seguido pelo burro. O urubu ficou parado, olhando atônito e sem entender o porquê aqueles dois não se dirigiram ao mercado, uma vez que ambos estavam com fome e com sede.
Como o mercado também era uma miragem da mente do pobre urubu, ele morreu depois de se entalar comendo areia. O burro e o camelo também foram encontrados mortos alguns quilômetros mais a frente. E a história sem moral termina com a lição de que devemos sempre usar protetor solar.
Mesmo que eu não fale de você, mesmo que insista em te querer, mesmo que eu não saiba o porque e ainda assim precise muito te lembrar que ainda existe.