domingo, maio 27, 2012

As mesmas coisas de sempre, só que diferente

as mesmas coisas de sempre

E comia tão pouco meu passarinho que cheguei achar estar anoréxica, coisa do tipo ou descontente com a vida. Comia tão pouco e estava tão magra que dava dó vê-la nesse estado, sem animo para viver. Perguntei de todas as formas, de todos os jeitos e nada ela me respondia, apenas acenava que não com a cabeça e continuava a comer tão pouco, bem pouquinho.

Suas pernas torneadas, suas curvas longas e sinuosas, tudo isso era passado, por comer tão pouco meu passarinho mais se parecia uma estrada insossa, retas sem fim. Não me apaixonei apenas por sua beleza, mas sim também por sua forma peculiar de me dizer as mesmas coisas que outras já haviam dito. E ela fazia isso tão bem, que tudo se renovava em mim como a primavera renova as flores no campo.

Há dias que tudo mudou e ela comia tão pouco, meu passarinho estava doente, morrendo e eu nada podia fazer para lhe salvar. Dois meses atrás viajamos pela Europa e ela estava tão viva, tão cheia de si e jogada em cima da cama com seu corpo nu, era tão sem graça, tão sem desejo, que eu nem sequer imaginava dar-lhe um beijo.

Tanto tempo gasto com declarações, juras de eterno amor e meu passarinho que não se alimentava e essa minha angustia que só aumentava. O que aconteceu com meu passarinho para estar assim, tão longe de mim.

Seria o frio? E o meu calor, porque não a aqueceu?

Seria a solidão? E a minha presença, porque não lhe fez companhia?

E eu? E todo o resto? E tudo aquilo que fizemos, porque nada funcionou? Meu passarinho agora não come mais, voou e foi fazer seu ninho em outro lugar. Descanse em paz.

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