quarta-feira, agosto 27, 2008

Teoremas de uma busca anunciada I

 

gravata1

 

Olhos dispersos olham-me por debaixo de lentes, eu faço o mesmo. Pessoas seguras, experientes talvez, não sei ao certo, tudo pode ser.

Honestamente tudo pode ser.

Estou aqui há quase uma hora e mesmo assim ainda não me familiarizei com nada e nem com ninguém. A cada hora que passa, mais e mais pessoas chegam e mostram a mesma segurança. Agora é um batalhão, eu fui engolido, estou basicamente isolado em meio a uma multidão de pessoas estranhas.

Todos são, eu sou, quem não é. Alguma coisa vai acontecer, eu sei que vai, só não me pergunte o que.

Uma sala cheia de gente. A sala era enorme, cabia umas 150 pessoas por aí, só que a sala não deu, ficou pequena demais para nós.

Nós? Eu disse nós?

Tô viajando de verde e amarelo, eu tô perdido no meio desse montão de gente. Tô perdido não, tô voando de verdade.

Acabaram de me perguntar se eu me chamava Sérgio, quase que respondo que talvez sim ou talvez não. Não tô sacando nada mesmo, o que ia ter de mal nisso?

Todos se olham e procuram rostos conhecidos na multidão, eu procuro também.

A menina ao meu lado procura saber, avida por informações, o que eu escrevo. Talvez eu diga. Provavelmente não enquanto estou aqui escrevendo...

A menina do outro lado tambem notou o meu fazer, aliás, todos notaram e estão curiosos. Tô bolado.

Começaram, já haviam surgido fichas de inscrição com o significativo nome de "pedido de emprego". Algumas pessoas preenchiam, eu não.

Depois das fichas vieram etiquetas que eram coladas no peito. Não sei se era identificação ou seleção, só sei que era como se todos que ali estavam soubessem o que estavam fazendo e quem não sabia, tinha amigos. E isso hoje em dia conta muito.

Um cara na minha frente começou a falar de tudo o que eu sabia, eu ia lhe dar uma aula mas fiquei apenas olhando. Eu não quis testá-lo, talvez ele soubesse algo que não estava mostrando. Pelos nomes, não estava falando como se soubesse.

Eu continuava perdido, aliás perdidaço no mundo, e que mundo. Tava me sentindo um idiota.

Eu vou me mexer, tá ficando tarde demais. Tõ escrevendo da maneira mais dificil de entender pois tá todo mundo me espionando. Tô entendendo, tô marcando toca. Vai a merda.

Já gastei quatro páginas escrevendo, não que eu não goste, mas tá dificil de fazer algo.

Não vou, deia eu pelo menos terminar. Sabia que quando me perguntaram se eu me chamava Sérgio eu devia ter respondido que sim. Eu sabia, bem ou mal tô dentro.

A galera daqui parece que sabe das coisas, todos demonstram isso. Depois que eu falei com a tal da Ana, que por sinal eu já conhecia, as coisas se clarearam um pouco. Agora eu tô menos bolado.

O negócio é ir a luta.

A etiqueta eu ainda não tenho, mas descobri que nesse lugar, quem não tem conhecimento tá fora. Eu continuo procurando um rosto conhecido, a moça ao meu lado continua procurando saber o que escrevo, as moças atrás de mim continuam procurando saber o que está acontecendo, todos procuram saber algo.

Acabaram de me perguntar aonde moro. Legal, tô dentro de novo.

Chega de escrever, tô ficando de porre disso e louco para ir fazer aquilo que sei que faço melhor.

Sem mais para o momento, eu, direto de bonsucesso, para a agenda de 1991 da Redley. Ô pobreza!

Leia também: Teoremas de uma busca anunciada II | Teoremas de uma busca anunciada III

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