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Eu sei, faço parte do seu mundo, mas o meu é bem melhor que o seu. Não dá para comparar, enquanto você vive a sua hipocrisia cotidiana eu vivo o meu mundo de felicidade.
Você é obrigado a passar recibo, a dar as caras, a se mostrar, a ser sincero e a um monte de coisas que só existem no seu mundo, porque no meu, nada disso existe e eu posso ser quem eu sou. No seu mundo, tenho que tomar remédios, não posso comer, não posso ser sozinha, não posso muitas coisas e tudo o que posso, é justamente o que eu não quero.
Eu vivo no seu mundo, sou obrigada, mas não gosto do seu mundo. O meu é mais honesto, mas tranquilo e nele, faço o que me der na telha sem ninguém para me dizer o que é certo ou que é errado.
No seu mundo tenho que aturar à todos me criticando por estar sozinha, mas eu adoro estar, ficar, ser só. Eu vivo no seu mundo e por isso tenho um namorado. Tenho mesmo? Sim, eu tenho, mas ele me serve tão somente e apenas, para que no seu mundo, não me encham de perguntas e afirmações a cerca da minha solidão.
No meu mundo ele não tem espaço e nem vai entrar, passa por lá às vezes, mas é tão chato, é tão seu mundo, que no meu ele soa falso, soa irregular, destoa, desbota e por isso eu não deixo ele entrar.
Eu vivo no seu mundo e tenho de ser esbelta, esbanjar beleza, sensualidade, competir com todas as outras habitantes desse mundo estranho, mas eu estou nele e tenho de agir como todos os outros, tenho de ser uma de vocês. Volta e meia eu saio do seu mundo e entro no meu, fico assim, dividida, entre um mundo e outro. Vou no meu para respirar, volto no seu para sorrir e mostrar o quanto estou "feliz" e depois volto para o meu.
Fico assim o dia todo, tentando "equilibrar", mas tem dias em que não dá e eu surto. No seu mundo, sou taxada de depressiva, complicada, problemática e outros adjetivos mais sutis. No meu mundo é apenas um periodo, um tempo em que eu mesma preciso ficar sozinha comigo para "desafogar".
Meu mundo é melhor que o seu e não fica tão distante, posso estar nele em poucos segundos, assim como volto ao seu no instante em que sou obrigada a interagir com essa selva em que se transformou o espaço em que seu mundo existe. Eu vivo a contradição das inverdades ditas pelos lábios mais impuros que eu conheço, mas me faço de desentendida e me junto a todos.
Vou à festas, trabalho, estudo, enfim, sou normal no meu mundo ou pelo menos tento parecer. Quem me vê admira mas não sabe o esfoço que faço para parecer uma de vocês, me vendo ao seu sistema tão e mais barato do que um maço de cigarros, me sinto um nada e sou um grão perdido no deserto de areia que é o seu mundo.
Eu sou apenas um ser humano, uma pessoa tentando sobreviver, uma menina como todas as outras, nem tão certinha, nem tão errada, apenas eu mesma. No seu ou no meu, na minha ou na sua, na nossa ou na deles, apenas isso e nada mais, apenas eu e mais ninguém.
Eu vivo assim, eu sou assim. Me queira como eu sou e eu te aceito como você é.
