Era uma caixa grande, daquelas que não cabe na mala do carro e muito menos no banco traseiro, tivemos de transportá-la no teto do carro. Bem amarrada ela resistiu aos solavancos e chegou intacta a seu destino, nosso lar.
Da mesma maneira que chegou foi depositada em um canto da sala e lá permaneceu até o dia em que nos mudamos e decidimos não levá-la para o novo lar. Nossa felicidade de papelão ficou lá, naquele canto da sala de nossa antiga casa a espera de seus novos donos.
Estranhou-me a decisão de abrirmos mão de nossa felicidade de papelão, até porque nunca soubemos o que ela continha. Desde que a recebemos, não perguntamos seu conteúdo e nem nos atrevemos a abri-la. Nossa alegria era saber que ela estava ali e a qualquer momento em que precisássemos poderíamos quem sabe encontrar a solução para nossos problemas.
Depositamos toda a esperança de dias melhores naquela caixa, imaginamos que ela estivesse recheada de dinheiro ou contivesse alguma formula mágica de cura para todos os males, mas nunca colocamos as mãos nela. Mantê-la ali, fechada, nos permitiu realizar, conquistar e seguir sem ela.
Achamos por bem deixá-la para que outros pudessem se inspirar e quem sabe, prosperar. A curiosidade quase nos corrompeu, mas nossa força de vontade aliada à certeza de que o conteúdo da caixa ainda não nos era necessário, nos livrou de abri-la.
Hoje não precisamos depositar esperanças em uma caixa e nem de um objeto que nos inspire, mas muitos ainda não conseguem caminhar sem um amuleto e estes precisam encontrar algo que lhes sirva de instrumento transformador. Desejo que estes se libertem o quanto antes e sigam sozinhos, com seus próprios esforços e recursos, o seu caminho.