- Ele vai voltar! – Disse Jéssica após se certificar que
todas as roupas dele não estavam no armário.
As malas, da ultima viagem, também foram levadas. O carro
ainda estava na garagem, mas por estar no nome dele provavelmente ele voltaria
para buscar.
- Ele se esqueceu de molhar as plantas! – Exclamou Jéssica
com irritação quando viu seu “coração valente” com as folhas caídas e a terra
seca.
Os cães estavam alimentados, sinal de que dessa vez ele
lembrou onde estava à ração vegetariana do Atila. Ela não queria um cachorro,
foi convencida quando adotaram Princesa, uma Golden Retrivier que foi deixada
em uma associação. Logo depois adotaram o Atila, um buldogue francês com
problemas intestinais.
- Ele não levou as joias! – Concluiu Jéssica ao encontrar o relógio
que ele mais gostava jogado sobre a escrivaninha. Era um relógio dourado com números
em romano e ponteiros em forma de seta. O relógio estava na família desde que o
bisavô dele, Alcebíades Moreira Peixoto Damasceno das Neves, ganhou pelos
serviços prestados a gráfica mais famosa da cidade. Foram cinquenta anos
imprimindo grandes publicações, catálogos, calendários, agenda e todo o tipo de
materiais que precisavam da qualidade que só a gráfica Imperial com suas impressoras
importadas podia fornecer.
Não houve tempo para explicações, espaço para lamentos ou
oportunidade de esclarecerem as coisas. Jéssica e Eduardo assinaram os papéis
da separação dois meses após o fim.
Ele viajou para a Austrália, tornou-se biólogo de um famoso
parque aquático. Ela continuou a vida no interior, agora como veterinária da
mais famosa fazenda da região.
O carro foi vendido. Atila morreu um ano depois. Princesa
continuou com Jéssica e agora morava na fazenda. O relógio continua na família Moreira
Peixoto Damasceno das Neves, só que agora pertence ao sobrinho do Eduardo.
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