É elementar meu caro Watson, todos sofrem ou vão sofrer um dia as dores de um desamor e nesse dia, nesses momentos em que o peito apertar e o coração bater mais devagar, seremos inevitavelmente levados a indústria do lamento.
Sim, ela existe. A tal indústria do sofrer é responsável pelo estrondoso sucesso da cantora inglesa Adele, dos grupos de pagode dos anos 90 e das duplas sertanejas. O sofrer vende, ameniza as dores do peito e por mais piegas que possa parecer, você um dia vai se ver cantando e gostando daquela canção que “toca” fundo.
As variantes são inúmeras, mas as que fazem mais sucesso são as que falam de abandono e da volta por cima. Aqueles que execram o passado e celebram o recomeço.
Quanto mais triste for a canção, mais melodramática e sentimental, mais sucesso ela fará. Você depois de um tempo, quando recuperar a consciência, vai se perguntar como pode ouvir aquilo, mas aí já terá sido tarde demais e aquele disco na sua estante não vai deixar você esquecer que por um momento, você sucumbiu à indústria do sofrer.
E não pense que a indústria do sofrer vive apenas da música, pois ela também está presente nos livros de autoajuda, nas mensagens “edificantes” das redes sociais e nos filmes do cinema. É só bater aquela tristeza, aquela saudade de um grande amor ou de alguém que não foi tão marcante assim, mas que nos fez bem em algum momento, que lá vamos nós procurar aquele livro que nos “ensina” como superar uma perda e começar de novo ou os poemas da Clarice Lispector e do Caio Fernando Abreu, que vamos compartilhar e curtir com prazer nas redes sociais.
O sofrer que antes era apenas uma fase, hoje é uma máquina de fazer dinheiro e mesmo não querendo, todos nós um dia a alimentamos e vamos alimentar.