- Bom dia amor!
- Bom dia bela adormecida! Como foi a sua noite?
- Foi vazia, você não estava aqui ao meu lado. Você sabe que sem o seu calor fica tudo tão frio por aqui.
- Sei e é por isso que estou te ligando, para dizer que a partir de hoje isso não vai mais acontecer.
- Como assim!? O que você está querendo dizer com isso?
- Estou querendo dizer que vamos morar juntos e você não vai mais passar suas noites com frio.
- Mas como você tomou essa decisão? Quando? Porque não me comunicou antes? As coisas não podem ser feitas assim?
- Meu bem, o que está acontecendo? Nós sempre sonhamos com isso, com o dia em que dividiríamos o mesmo teto e não mais ficaríamos separados um do outro. Você não precisar ficar aflita, tudo vai dar certo.
- Não! Temos que conversar melhor sobre isso, fazer as coisas com calma. Você não pode simplesmente pegar suas coisas e vir morar comigo. E eu não estou aflita, só quero que respeite o meu espaço e o meu tempo.
- Amor, agora estou começando a ficar preocupado. Já havíamos conversado sobre isso há muito tempo e esse sempre foi o nosso desejo. Eu não estou desrespeitando o seu espaço e nem o seu tempo, estou apenas fazendo o que já era esperado.
- Isso não era o esperado! Gustavo você está fazendo as coisas do seu jeito e do seu modo, sem me comunicar e apenas porque você acha que isso é o certo. Odeio quando você faz isso e você sempre tem essa mania de querer se antecipar, atropelar, ser mais do que o necessário.
- Pelo visto estamos falando de coisas diferentes e algo aconteceu nessa sua noite fria e vazia. Precisamos mesmo conversar, mas pessoalmente, pois por telefone será impossível uma vez que você está confundindo tudo. Posso passar aí mais tarde ou isso também será considerada uma invasão ao seu espaço?
Silencio, foi tudo o que restou, pois do outro lado da linha não havia mais ninguém. Ela respondeu a pergunta feita por ele da forma mais inconteste possível, com o silencio e todos sabem que não existe mais exatidão e certeza do que no silêncio. Daquele dia em diante caminharam em direções opostas, mesmo que em pensamento estivessem juntos como nos áureos tempos.
Nunca mais tiveram noticias um do outro, nunca mais trocaram telefonemas de madrugada ou passaram as tardes de outono abraçados. Nunca mais foram vistos nas festas e nem mais se ouviram as risadas sinceras que davam quando descobriam um detalhe interessante na paisagem.
Dele, sabe-se que mudou para Argentina e dá aulas de português para nossos hermanos que querem se aventurar em nosso país. Ela continua morando sozinha, no mesmo apartamento que um dia seria compartilhado pelo casal mais apaixonante que já se viu.
As razões para o fim não existem e nem devem ser buscadas. É inútil e sem sentido descobrir agora, depois de tantos anos o que os levou a terminar algo que ensejava tanto e era tão bonito. Relacionamentos terminam e começam a todo instante e o deles foi apenas mais um desses que foi maravilhoso enquanto durou, mas que infelizmente ou felizmente, nunca se sabe, terminou.