O sujeito se levantou, postou-se quase a minha frente, em pé no balcão, e sacou da carteira um cartão que de tanto brilho chegou a incomodar. A atendente muito solicita, e nessas horas, elas sempre são bem mais solicitas, pois descobrem ou pensam que descobrem, quem é quem, foi logo dizendo em alto e bom som.
- Então o senhor é cliente exclusivo, parabéns! O senhor tem direito a 0,5% de desconto em nossos produtos e ainda ganha pontos em dobro no nosso programa de benefícios.
O tal sujeito, com ar engomadinho e tipo executivo de porta de cadeia, esses de repartições que para nada servem e que se mantém a custa de processos ultrapassados que não podem ser mudados, então, o tal sujeito levantou as sobrancelhas e sorriu de canto.
Comecei a ouvir o barulho incomodo da maquina de fazer contas e em segundos a atendente ainda mais solicita, disse os números mágicos.
- São apenas três mil, quinhentos e quarenta e sete reais e vinte e oito centavos. Isso já com o desconto que o senhor tem, por ser um cliente exclusivo.
Sem graça e notadamente constrangido, o sujeito balbuciou as palavras que acabam com qualquer relacionamento cliente x atendente.
- Em quantas vezes eu posso parcelar?
Nesse momento as coisas mudam completamente de figura e o tal cliente exclusivo, torna-se um cliente comum, da pior espécie. Perde o grande desconto, os pontos em dobro, o cafezinho cortesia e o sorriso da mocinha loira do caixa. Toda a pompa e exclusividade se vão por agua a baixo, porque clientes realmente exclusivos são aqueles que têm dinheiro no bolso e não os que se matam para ostentar um cartão com nome pomposo na carteira.
Legal é você poder pagar as suas contas no final do mês, em uma ou em várias parcelas. Legal é tomar sua bebida, seja ela no bar da esquina ou no restaurante badalado, sem pedir fiado. É comer onde quiser, quando quiser e pronto. Cartão colorido não transforma a vida de ninguém, pode até abrir algumas portas e garantir serviços diferenciados, mas de que adianta tudo isso se você não puder pagar.