Escreveu assim um dia o poeta. E por ser poeta, desses que nunca falham, foi aclamado pela grande imprensa, idolatrado pelas massas, cortejado pelo governo e ameaçado por seus inimigos. Escreveu assim que de tanto escrever, pensar e sonhar começou a acreditar. Acreditou de tal forma que ousou tentar poder fazer e em sua ousadia logrou êxito onde muitos fracassaram.
Não era bem tão somente um poeta e muito menos um assemelhado qualquer, era um homem comum desses que não se encontra nas esquinas, mas que pode ser visto nos bares a vagar. Bebia moderadamente duas ou três garrafas de uísque barato antes de começar a compor. Sorria em voz alta, chorava em silencio e ao fim do dia, ainda na mesma agonia, criava com fervor.
Poesia não é uma ciência exata como a matemática ou a física. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, cientificamente falando, mas em se tratando de poesia podemos colocar vários corpos em um mesmo espaço sem nenhum problema. Sendo eles poetas a convivência pode não ser pacifica, pois poetas possuem grandes aspirações, sonham com o livro publicado, o poema premiado e o amor impossível. Caso os corpos possuam razão e não só emoção, a convivência torna-se possível desde que os poetas não se apaixonem pelos demais.
E foi assim em meio a uísque barato, cigarro mentolado e amores de cem reais que ele conquistou o seu lugar na história. Saiu na primeira página de todos os jornais e foi destaque nos noticiários da TV. “O poeta Almerindo Castro foi assassinado hoje pela manhã em um bar no centro do Rio com dois tiros. Almerindo ficou famoso por suas poesias lisérgicas, lidas em todo o mundo. Elas tornaram-se tema de debates acalorados e ele chegou a ser recebido pelo governo como um homem a frente do seu tempo, por conseguir suscitar o poder critico daqueles que liam suas obras.”