- Quando acordo ainda esta escuro lá fora e você permanece lendo aquele livro enfadonho do Jabor, uma inutilidade sem tamanho. Você espera eu me levantar, tomar banho, café e partir, para poder dormir do meu lado da cama. Eu sei que você não suporta o fato de estarmos separados e por isso tenta sentir, ao menos, o calor do meu corpo que fica na cama.
- Uma pena que pense assim de um livro que não leu e que deveria comprar, pois o meu exemplar não vou emprestar. Estamos separados sim, graças a Deus. Não tenho nenhum motivo para me deitar do seu lado da cama e até mesmo o alegado por você não procede, pois o seu lado já está frio quando você sai.
- Bom saber que o livro é uma maravilha, até porque se fosse ruim você não estaria lendo ele há um ano todos os dias. No começo achei que era um livro com muitas páginas e capítulos, algo acima dos três dígitos, mas pesquisando na internet descobri que o livro tem apenas cento e trinta e seis paginas. Você lê muito devagar para alguém que se vangloria de ser o primeiro em tudo e se sabe que o meu lado da cama já está frio quando levanto, é porque vai ate ele em busca de algum resquício, mesmo que mínimo, de mim.
- Leio devagar porque não tenho pressa, coisas boas devem ser degustadas e não devoradas.
- Então nunca foi uma coisa boa para você, pois você me devorava e não degustava.
- Você nunca reclamou...
- Nunca gostei de degustadores. Essa coisa de entradinha e afins nunca fez o meu tipo, sou adepta a ir direto ao ponto.
- Mulheres não são livros onde as paginas podem se rasgar ou pratos culinários com suas frescuras.
- Nesse ponto você sempre soube a diferença entre uma coisa e outra, não posso reclamar. Sexo com você sempre foi da maneira que tem de ser ou pelo menos da maneira que eu acho que tem de ser.
- Você sente falta?
- Você não?
- Agora?
- Estamos separados, esqueceu?
- Não, mas deu saudade e vontade.
- Saudade é passado, vira lembrança, boa ou ruim. Vontade dá e passa.
- É isso?
- Seria o que?
- Poderia ser a gente relembrando os velhos tempos, fazendo o que sempre fizemos de melhor.
- Poderia, mas novamente íamos nos machucar e reviver as feridas que agora estamos conseguindo curar. Você me ama, eu sei. Também te amo, meu coração sabe, mas a razão corretamente diz o que devo fazer para não sofrer outra vez.
- Vou sair hoje à noite, não me espere para jantar.
- Me empresta o livro do Jabor?