Já não se fazem mais casamentos como antigamente

- Madrinha de casamento da prima da cunhada da vizinha da amiga da tia da avó do Beto, não é pouca merda não! Preciso do melhor vestido que você puder costurar e tem que arrasar, pois casamentos assim são raros. Hoje em dia as pessoas só querem saber de morar junto, de juntar os panos de bunda, de dormir de conchinha e não pensam em todos aqueles que passam anos torcendo pela felicidade do casal e não são agraciados com um misero bem casado se quer. Ingratidão e avareza é o que mais se vê. Já não se fazem mais casais como antigamente e até as igrejas não estão mais cobrando essa coisa do casamento. Antes o padre via um casalzinho e já ia logo cobrando a data, falando dos votos e de toda a coisa envolvida na celebração. Agora ele quer mais é que a igreja esteja cheia, não importa se são casados de verdade ou apenas amigados. Um horror tudo isso.
- Posso fazer um tomara que caia lindo para a senhora.
- Tomara que caia não porque meus peitos já não estão mais respeitando a lei da gravidade, faz um com bonito, fresco e com alguma coisa que segure os meninos porque senão já viu.
- Hum, tenho um aqui com alças laterais que vai cair como uma luva na senhora.
- Ô menino, para com esse lance de senhora que assim eu me sinto ainda mais velha e olha que nem cheguei aos sessenta. Ainda estou inteira, pronta para curtir a vida e quero estar linda nesse casamento porque madrinha fica lá na frente, todo mundo olhando, vai que tem um moço bonito na igreja, ainda quero casar também e no meu casamento vai ter brigadeiro. Não entendo essa frescura do pessoal de achar que brigadeiro e cajuzinho são doces de pobre. Agora eles só fazem aquelas porcarias cheias de caramelo de açúcar que ficam grudando no dente, um horror. Outro dia comi um troço desses e quase que perdi a dentadura toda, grudou de tal maneira que tive que usar água quente para soltar.
- Então vamos fazer um vestido azul brilhante, bem ajustado, vai valorizar suas curvas e realçar o busto.
- Vai devagar menino, não inventa muito que não quero ficar parecendo alegoria de escola de samba. No casamento da Selminha, a colega da Maria José lá de paciência, prima da Carmem do encantado, que foi esposa do Celso, o irmão do Carlos, as madrinhas estavam horrorosas, uma pior do que a outra. A mãe do noivo então estava usando um vestido vermelho com uns detalhes de paetê e umas penas na cabeça, meu Deus, deu pena, parecia um pavão depenado. Faz coisa simples mesmo, porque senão as fofoqueiras do bairro vão falar até o final do ano e não quero dar assunto para elas.
- Perfeito! Então fechamos assim, será um lindo vestido azul turquesa com um brilho discreto, caimento suave e barra ondulada.
- Assim está bom, muito bom, agora me deixa ir que vou passar no salão para agendar o dia da madrinha, afinal a noiva merece que eu esteja impecável.