A coisa toda é tentadora. De um lado ela, nua, ali, esperando por uma atitude, uma reação, mesmo que involuntária. Do outro lado eu, ali, pensativo, com o lápis na mão e nenhuma ideia na cabeça. O personagem vai fundo, consuma o ato ou desiste no meio do ensaio e se retira de forma não tanto honrosa? Duvidas martelando a mente, a folha em branco, o lápis inquieto e a porra do editor pressionando por alguma coisa.
Lá pelo idos anos oitenta, quando decidi que era razoavelmente bom nessa coisa de criar personagens, contar histórias e dar formas a ideias bizarras, não imaginava o processo como um todo. Ver a parte glamorosa da história, a que nunca existiu, não era difícil. A questão fundamental é que nunca fui bom administrador de prazos e da minha própria vida. Romances não terminados ou terminados da pior forma possível, a mais clichê e isso, os reais, porque os da ficção, os que eu inventava, nunca terminei.
Dá um frio na barriga olhar a personagem nua no papel e imagina-la nua na vida real, ali, a espera do outro personagem que não consigo criar, que não consigo materializar seja no papel ou na vida real. Claro que o personagem não sou eu, não confundo as coisas e nem misturo a minha realidade com minhas fantasias. Elas podem ser parecidas, mas é uma questão de coincidência e nada mais.
E se a tal personagem colocar a roupa e for embora? Largar o outro personagem indeciso ali seria algo a se considerar. E se ela nem tiver tirado a roupa? Esperar pela decisão do outro personagem vestida é algo a se considerar. São tantas opções e nenhuma decisão. O indeciso da história sou eu e não o personagem. A personagem, que a essa altura já bateu a porta do quarto e se mandou, tomou a decisão correta. Eu vou abrir mais uma cerveja, jogar fora os rascunhos e começar de novo.
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