Trinta e cinco anos, dez dias e três horas.
Hoje inicia-se uma nova primavera em minha vida. Uma
primavera muito aguardada, desejada e única. Esperei por trinta e cinco anos
para poder acender as velas do meu bolo de aniversário de trinta e cinco anos.
Exatamente no dia em nasci minha mãe prometeu ao meu pai que
com trinta e cinco anos eu estaria pronta para o mundo, seria uma mulher bem-sucedida,
casada e com lindos filhos.
Graças a Deus ela errou em tudo, ou quase.
Acordo cedo, antes das seis. Preparo uma vitamina, banho,
roupa e condução. Não sei dirigir e nem quero aprender. Locomoção é o menor dos
meus problemas.
Fico no trabalho até as oito da noite e quando saio já
começo a pensar nas matérias do dia. Hoje, dia do meu aniversário, é a revisão
de matemática.
Quando o sono deixa estudo até a meia noite, quando não vou
até onde dá. Concurseiros tem que estudar todos os dias, não tem jeito.
Queria que minha mãe estivesse certa ao menos na parte de
ser bem-sucedida. Não que eu não seja, mas acho que poderia ter um emprego
menos cansativo e uma casa perto da praia.
Dispenso a parte dos lindos filhos e do casamento. Amo a
solidão que conquistei nesses trinta e cinco anos.