Se meus cabelos brancos conquistados ao longo de setenta anos bem vividos pudessem servir de prova daquilo que fiz, ficariam corados todos os que cruzassem comigo pelas ruas da cidade. Eu jamais serei uma santa e fui muito mais ousada em minha juventude do que vocês possam imaginar. Fui a moça que todos queriam na cama, mas longe do altar.
Fui a messalina que destrói casamentos e lares, fui a despudorada que faz sexo a qualquer hora do dia e em qualquer lugar, fui a vingativa que atira assusta crianças por prazer, enfim fui a mulher que todas as outras queriam eliminar.
Os homens sempre quiseram me usar e sempre puderam fazer isso, desde que é claro, eu permitisse ou quisesse que um desafortunado desses colocasse a mão em meu corpo mais que maculado.
Nunca tive receios e nem medos infundados, nunca me preocupei com as puritanas e carolas da vida. Fiz sexo mais vezes do que escovei os dentes pela manhã, me despi tantas vezes que roupas para mim sempre foram mero acessório.
Tive dez noivos e nenhum marido, tive mais de cem namorados e todos traídos sem dó e nem pena. Uns com o primeiro que aparecia, outros até com o próprio pai ou irmão. Nunca me preocupei com essas coisas, estava com o corpo ocupado demais para pensar em bobagens.
Hoje aqui estou, com o peso da idade batendo a porta e sem nenhum remorso por algo que eu fiz. Nunca pedi e nem devo, desculpas a ninguém, fiz o que tinha de ter feito e só me arrependo de não mais poder ser como antes.
Quando se tem setenta anos, algumas partes do corpo não correspondem mais da maneira que se deseja e mesmo estando em plena forma, tenho mais dificuldades de encontrar quem me queira.
Mas o que seria do branco se todos fossem azuis? O que seria dos homens se todas as mulheres fossem entediantes? Eu nunca fui e nem serei, portanto, se você não se importa com alguma pele sobrando e com alguma falta de flexibilidade, me procure e te mostro que ainda não desaprendi o oficio.
Uma vez vagabunda, sempre vagabunda.