- A padaria não vende mais sonhos!
- Muda de padaria.
- Não posso, minha avó sempre comprou nessa padaria, depois minha mãe e agora eu. É uma tradição de família, não posso acabar com tudo apenas por causa de um sonho.
- Então esquece essa história de sonho e come pão doce.
- Eles também não vendem mais pão doce e mesmo assim, não posso quebrar a tradição da família de comermos sonho no dia 19.
- Compre em outra padaria e o problema acaba. É só por um dia, a tradição não vai ser afetada por isso.
- Quanta insensibilidade da sua parte, você não sabe mesmo respeitar as tradições. Não posso simplesmente decepcionar as mulheres da minha família que tanto batalharam todos esses anos.
- Faça como achar melhor Keila, só quero que não me perturbe mais com essa história de sonho. Coma onde quiser, como quiser e com quem bem entender.
Keila percebeu o quanto estava transformando aquela história em algo absurdo e decidiu que naquele ano, no dia 19, não se comeria mais sonho naquela casa.
“Que se danem das tradições!”, foi o que ela disse antes de dormir. Deu um beijo na testa de seu esposo e aliviada por ter finalmente tomado uma decisão, deitou-se para o sono dos justos.
No dia 19 os bombeiros encontraram os corpos em meio aos escombros, por mais incrível que possa parecer, a casa sólida onde residia a família de Keila veio abaixo durante a madrugada. Ninguém até hoje sabe como tudo aconteceu, mas estranhamente um sonho de padaria foi encontrado embrulhado e intacto sobre os escombros.