E eu que esperei tanto por tão pouco não poderia deixar de perceber que o muito que recebi estava diretamente ligado a tudo o que se passou nos últimos trinta e cinco anos de minha nada glamorosa vida. Entediante quando eu conto assim, sem floreios, mas mais entediante ainda para quem viveu, assim como eu, por longos trinta e cinco anos uma vida modorrenta e sem graça. Você pode me considerar exagerado e dizer que ninguém vive por trinta e cinco anos uma vida de merda e não faz nada para mudar isso. Eu fiz, muitas coisas, tentei de todas as formas, mas não consegui mudar em nada a minha vida, nem uma vírgula sequer. Tentei yoga, religiões radicais, meditação e até suicídio, mas nada adiantou.
Hoje levei o lixo para fora, limpei o quintal, comi algumas frutas orgânicas e desfiz as malas da ultima viagem. Chorei horrores ao ler meu nome na etiqueta da companhia aérea, apenas por lembrar que eles, em trinta e cinco anos, foram os únicos que se dispuseram a colocar o meu nome em algum lugar.
São apenas trinta e cinco anos vão dizer a maioria ou ainda há muita coisa a ser feita, dirá outra grande parte, mas nenhum deles viveu os meus trinta e cinco anos e, portanto, nenhum deles sabe como me sinto depois de trinta e cinco anos. Nasci em um ano difícil, vivi anos difíceis e agora estou aqui, discorrendo sobre meus anos difíceis, falando sobre trinta e cinco anos de sofrimento. Poderia escrever um livro, mas me contento com estas porcas linhas e esse desabafo sem graça.
Imagem do post: Tumblr / Flawless burt heartless
