- Sem pão na padaria só me resta ir a farmácia comprar remédio para dor de cabeça.
- E o que tem haver a falta de pão com dor de cabeça?
- O que tem haver? Você não sabe? Mora comigo desde que estávamos no quinto período da faculdade e até hoje não sabe o que tem haver a falta de pão com a dor de cabeça?
- Não, não sei!
- Pois bem, eu também não sei, mas vou à farmácia assim mesmo!
- Dez reais não paga nem a fita que usei para embrulhar o presente. A fita, de seda, foi coisa de cinqüenta e lá se vão reais.
- Porra! Mais de cinqüenta reais em uma fita de merda para embrulhar um presente?
- Olha lá como fala da minha fita, eu não compro porcaria. Um presente como o meu, caro, fino, chique e de garbo, não pode ser embrulhado com uma fita qualquer.
- Nas Lojas Americanas tem papel de presente de um e noventa e nove, não precisava de toda essa frescura por causa de um presente.
- Quando for o seu presente, pode deixar que eu vou lá e compro um papel de um e noventa e nove e embrulho bem bonito para você.
- O que não entendo é que essa fita de mais de cinqüenta reais, foi mais cara do que esse chaveirinho vagabundo do Botafogo que você comprou por três e noventa no vendedor ambulante.
- Sobe!
- Desce!
- Esse aqui está subindo!
- Mas eu estou descendo. Quinto por favor!
- Meu senhor, este elevador está subindo, o quinto andar fica logo abaixo do sexto andar, que é onde nós estamos.
- O senhor além de ascensorista, ainda é abusado. Já lhe disse que quero ir para o quinto andar e como estamos no sexto andar, o elevador tem que descer e não subir.
- Esse elevador está subindo, se o senhor quiser, vamos até o vigésimo primeiro e de lá o senhor volta para o quinto.
- E eu vou ter que esperar você subir até o vigésimo primeiro, ir parando de andar em andar, só para me sacanear, para depois voltar para quinto? Nada disso! Já estamos no sexto, é mais fácil você descer e depois subir de novo.
- Senhor, é apenas um lance de escada. Você desce de escada, chega ao quinto, fica feliz e deixa eu seguir minha viagem.
- Isso é um absurdo! Agora eu tenho que ir de escada porque você não quer fazer o seu trabalho, para o qual é pago, e muito bem! Vou me queixar ao sindico e você vai para o quinto, mas é para o quinto dos infernos!
- Vai, isso, coloca tudo... Assim, gostoso, vai...
- Não dá, você me desconcentrou!
- O que?
- É porra, fica parecendo flanelinha manobrando carro e eu odeio essa merda!
- Peraí, nós estamos na cama transando e não estacionando carro, o que você está falando?
- Você ficou me guiando e eu perdi a vontade. Não gosto que fiquem me dizendo o que eu tenho que fazer.
- Desde quando você virou fresco que eu não sei? Os flanelinhas que você encontra falam assim com você? Onde você anda indo?
- Uma insensível mesmo, por isso que não vai dar certo, como posso ter clima para transar com todas essas cobranças em cima de mim.
- Deixa de frescura e vamos logo ao que interessa!
- Não, para mim chega! Não sou esses vagabundos que você pega na rua, usa, abusa e depois joga fora. Tenho sentimentos!
- Estou te falando, comprei barato.
- Barato até demais. Dez mil naquele apartamento?
- É isso mesmo, parece loucura e nem eu acreditei.
- Cara é um apartamento duplex de quatro quartos, duas suítes, duas salas, dois banheiros e não sei mais o que. Como isso tudo pode ter custado apenas dez mil?
- E eu vou saber, pergunta para o vendedor. Comprei porque estava barato e você agora está com inveja porque a sorte não lhe sorriu.
- Inveja não, dúvida. Não tem lógica um apartamento desses por apenas dez mil, tem alguma coisa muito errada nisso e você precisa ver.
- Preciso nada. O que você quer é melar o meu negócio para poder ficar com ele. Não sabia que estava cercado de pessoas invejosas. Bem que me avisaram, mas eu confiei em você e agora a mascara caiu.
- Mascara? Você está maluco!
- Maluco só porque vou morar em um apartamento lindo? Meu Deus, como a inveja e o despeito transformam as pessoas.
- Já se deu conta de que este apartamento nem existe ainda, a construção só começa em 2014 e o terreno onde ele será, hoje é o maracanã?