quinta-feira, janeiro 01, 2009

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caminhante

 

Martelando este número na cabeça, as coisas não poderiam dar muito certo, mas ele tinha fé e a sua fé, pelo menos era nisso que ele acreditava, ia leva-lo ao sucesso. O número, nada mais era do que a mola propulsora para o estrelato e a fuga do anonimato.

Com pouco mais de dois reais ele comprou uma garrafa vazia e a preencheu com seus sonhos, anseios, desejos e seu número da sorte, o número que o tiraria de vez daquela vida sem graça e sem sal de tantos anos. Mais do que isso, ele tinha a esperança de que com o novo ano, as coisas realmente se transformassem e para isso, ele tinha ainda, o número mágico.

Depois de se apresentar e passar pela portaria, apenas mais quinze andares o separavam de um novo tempo e esses andares foram facilmente ultrapassados com ajuda do elevador. No décimo sexto andar, a sala da presidência ficava no fundo do corredor, permanecendo trancada em dias como aquele, dias em que as pessoas celebravam o novo ano, afinal estavamos em trinta e um de Dezembro e há poucas horas entrariamos em dois mil e nove.

Entrar na sala da presidência, mesmo com ela trancada, foi fácil e acessar o sistema de pagamentos da empresa, mais fácil ainda, pois ele tinha os números mágicos. Depois de transferidos os mais de dois milhões de euros para a sua conta, antecipadamente criada, na suíça, ele se lembrou da garrafa com os seus sonhos, anseios e desejos.

Ela era como uma compensação a empresa que o estava ajudando naquele momento e depois de tudo, nada melhor do que seus sonhos, anseios e desejos serem deixados para que outros, pudessem deles compartilhar. Assim, deixando a garrafa de lado, ele se foi em direção ao novo, ao desconhecido, ao mais simples e com certeza para onde sempre esteve fadado a estar, depois de todos estes anos de luta e batalha.

Um filme passava pela sua cabeça enquanto o elevador o levava para o térreo. Seus amores, suas frustrações, suas mulheres, seus filhos, seus amigos, sua música e tudo o mais que ele vivera até aquele momento, trinta e um de dezembro de dois mil e oito às vinte e três e quarenta da noite, estavam ali, revelados a ele, como se estivessem acontecendo naquele momento.

Nas nuvens e em paz consigo mesmo, despediu-se do porteiro e cruzou a rua sem olhar para os lados e nem ver o caminhão de placa vinte e cinco, noventa e sete, oitenta e três.

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