Olhei assim de relance quando você passou e nem me notou. Eu também quase não lhe notei, mas seu brilho foi tão grande e seu perfume tão inebriante que não havia como não lhe perceber ali, naquele instante.
Seus cabelos estavam soltos, negros e longos, ao vento. Sua pele alva contrastava com seus róseos lábios e seus olhos castanhos. Você estava linda usando apenas uma blusa, que suponho foi comprada em uma dessas liquidações de lojas populares, bem simples, e uma calça jeans. Carregava uma bolsa pendurada ao ombro e exibia um discreto colar com um pingente que não pude identificar.
Sentou-se ao meu lado inerte aos fatos a sua volta e começou a ajeitar a sandália que teimava em sair de seus pés. Puxou um pouco para cima, para os lados, retirou a fivela e por fim, quando tudo já estava em seu devido lugar, deu um breve suspiro e me olhou.
Não me olhou com olhos de atenção, apenas com olhos de quem verifica a área ao redor e se certifica de estar em lugar seguro. Não notou a minha cara de bobo, muito menos meu olhar mirando o seu.
Alguns segundos depois você já estava absorta em seus pensamentos, olhando o nada e pensando, talvez, em tudo.
Desci da condução e não mais lhe vi, mas ainda pude sentir sua presença por alguns minutos enquanto caminhava distraído pelas ruas. O sol me queimava a pele, uma brisa batia em meu rosto e uma linda manhã de mais um dia qualquer se descortinava a minha frente, lembrando-me que a felicidade é feita de momentos.