− Lhe conheço de algum lugar, você trabalha aqui?
− Sim e pelo visto você também.
− Como esses corredores são pequenos. Uma empresa tão grande como essa e nos encontrarmos logo aqui, no terceiro piso C ao lado da administração central.
− Está aqui há quanto tempo?
− Cinco anos e você?
− Sete anos e meio, mas não pretendo completar oito, acho que passei para aquele concurso publico.
− Faz bem. Essa empresa é uma mãe para gente, mas temos de mudar de ares de quando em vez.
− Agora tenho de ir senão meu chefe me pega aqui. Foi bom te reencontrar... Qual é mesmo o seu nome?
− Almeida. E o seu?
− Barbosa.
− Foi um prazer Barbosa. Até mais ver.
De um encontro casual no corredor da empresa a um encontro informal em qualquer outro lugar. Sempre assim, de repente, sem motivo aparente.
− Qüinquagésimo quarto, por favor.
− Senhor sinto informá-lo de que este prédio dispõe apenas de trinta e um andares distribuídos entre dez pavimentos distintos, separados por seções em comum com o bloco da ala sul na extremidade norte.
− Muito obrigado senhor barsa ilustrada, mas apenas desejo ir para o qüinquagésimo quarto andar e não estou nem um pouco interessado na subdivisão do prédio.
− Ironias não vão levá-lo a andar algum senhor. Já tentei lhe dizer, de forma educada, que este prédio possui apenas trinta e um andares distribuídos entre dez pavimentos distintos, separados por seções em comum com o bloco da ala sul na extremidade norte. Pelo visto terei de ser mais enfático para que o senhor entenda.
− Caro motorista, piloto, condutor de elevador ou você prefere a palavra ascensorista? Não estou aqui para comprar o prédio, não pretendo fazer nenhuma reforma no mesmo e nem sou tarado por números e estatísticas, portanto apenas me leve para o qüinquagésimo quarto andar, por favor.
− Gostaria muito de ajudá-lo, mas aqui não é uma clinica psiquiátrica e muito menos temos convenio com alguma. Não posso levá-lo a um andar que não existe no prédio, pois este prédio foi construído apenas com trinta e um andares distribuídos entre dez pavimentos distintos, separados por seções em comum com o bloco da ala sul na extremidade norte.
− Entendi porra! Você não quer me levar à porcaria do qüinquagésimo quarto andar, prefere ficar repetindo essa merda de descrição detalhada do prédio tal e qual um gravador, então fique. Vou de escada e chego mais rápido.
Alguns lances de escada depois da meia noite, no meio da cidade e próximo a rodovia, é que as coisas acontecem.
− Confia em mim.
− Você é engenheiro por acaso?
− E precisa?
− Porra, como não? Você está construindo uma casa sozinho, nunca fez nada parecido e ainda me pergunta se precisa ser engenheiro para isso.
− Pedreiros não fazem curso de engenharia e pensando bem, nem curso algum, e mesmo assim constroem uma casa. Porque eu não posso construir a minha?
− Você não é pedreiro. Nunca foi nem ajudante de pedreiro. Você sabe o que é cimento porque o cara da loja te deu o produto certo. Está entendendo a gravidade da situação?
− Estou entendendo que você agora deu para ter ataques de histerismo.
− Onde estou? Quem sou eu? O que fiz a Deus para merecer tudo isso?
− Além de histérico agora deu para fazer perguntas ao vento. Você precisa urgentemente se tratar rapaz, isso está ficando sério.
− Vou me acalmar... Vamos começar tudo de novo. Você não é engenheiro, pedreiro, mestre de obras, ajudante de pedreiro ou qualquer coisa que tenha o mínimo de noção de como se constrói uma casa, prédio ou qualquer outro tipo de edificação. Ok?
Você nunca fez curso algum sobre o assunto, não leu nenhum livro, não viu vídeos explicativos no Youtube, não participa de nenhuma comunidade de obras no Orkut, não segue o Marcelo Rosenbaum no Twitter e, portanto, diante de todos esses fatos não tem como construir uma casa, ainda mais uma desse tamanho. Deu para compreender agora?
− Sim. Compreendi e acho que você tem certa razão, mas agora que só falta colocar piso no quarto andar, vou terminar assim mesmo.
Saindo da sala e entrando na cozinha, podemos observar como os fatos que antecedem os atos, são distorcidos pelo bom gosto geral.
− Mais fundo. Vai, vai, isso, isso, assim... Não para.
− Está gostando né safadinha...
− Para. Agora para tudo. Você sabe que eu não gosto quando você me chama de safadinha, fica parecendo que sou aquelas garotinhas.
− Desculpa amor foi sem querer. Deixa eu te levar a lua que você esquece isso. Vem cá, vem, vamos continuar.
− Não dá Carlos Alberto você cortou o clima. Agora perdi o tesão.
− Porra! Só porque te chamei de safadinha você perdeu o tesão e vai me deixar na mão?
− Até que você não é ruim de rima não Carlos Alberto. Gostei, tesão rimou com mão.
− Maria Eduarda não muda de assunto. Estávamos no meio de um sexo gostoso e você agora quer falar de rima. Faça-me o favor...
− Está vendo como você não é nem um pouco romântico Carlos Alberto. “Sexo gostoso”? É assim que você se refere ao nosso ato de amor? Como pude me apaixonar por você.
− Não acredito! Errei quando te chamei de safadinha, mas já me desculpei. Ai você veio com um papo de rima e agora está querendo dizer que sou um canalha apenas porque falei que estávamos fazendo sexo e que estava gostoso. Maria Eduarda às vezes você me tira do sério.
− Foi mal amor acho que desconectei, perdi o foco. Vamos continuar de onde paramos. Vem meu garanhão, me possui. Usa e abusa de mim.
− Assim que eu gosto... Vou acabar com você. Deixa eu te mostrar o que é bom. Vem cá minha gostosa!
− Para. Agora para tudo. Você sabe que eu não gosto quando você me chama de gostosa, fica parecendo que sou aquelas guloseimas...