- Está bem, você gosta de mim e eu acho que isso pode ser bom, desde que eu não seja obrigado a também gostar de você.
- Claro, para você o que é bom é sempre o que não é bom para mim. Se gosto de verde, você gosta de azul. Quando quero ir ao cinema, você quer ficar em casa. Não consigo te entender.
- Não estou pedindo que me entenda, apenas pedindo que eu não seja obrigado a gostar de você.
- E você não é obrigado, nunca lhe pedi isso.
- Mas não é assim que parece...
- Como assim?
- Você fala de um jeito que me põe contra a parede e acabo ficando sem jeito.
- Então não falo mais, apenas te amo em silencio.
- Em silencio como quem diz com o coração?
- Em silencio como quem fala com a alma.
Ela nunca mais disse nada, mudou-se para sua própria casa, comprou um cão de estimação e roupas novas. Ele seguiu sua vida e começou a sentir falta dela quando precisava conversar com alguém em quem ele confiasse.
- Porque você não volta?
- Porque você acha que devo voltar?
- Porque simplesmente você não volta por que me ama?
- Porque acho que isso não é o bastante.
- E o que seria o bastante para você?
- Não existe o bastante, o que não transborda, não invade, não extrapola, é limitado e o que é limitado não me satisfaz.
Ela mudou de emprego, fez novos amigos e conheceu o Tomas. Ele não conseguia mais se concentrar, passou a beber e a deixar de sair nos finais de semana.
- Você está mais bonita.
- Obrigada.
- Você está feliz sem longe de mim?
- Estou.
- Porque não fala comigo direito?
- Você faz muitas perguntas para as quais você sabe as respostas.
Ela ficou noiva, mudou-se para a casa do Tomas e começou a pensar em engravidar. Ele só saia de casa para o trabalho e do trabalho para casa, deixou cabelo crescer e não conseguia mais sorrir.
- Eu te amo.
- Já te amei também um dia.
- Não ama mais?
- Amo, mas não como antes.
- Pena, pois só agora descobri que sempre te amei.
