O frio corta a pele, mas não machuca tanto quanto o seu olhar distante, vazio. O frio é inclemente, enquanto você não tem pena e mesmo parecendo serena, me angustia com esse jeito incólume de ser. Como é difícil querer algo que não pode pertencer, como é pesado o fardo de ter ao mesmo tempo que conviver com a indiferença e com a dor. O que aconteceu com o nosso amor foi o mesmo que aconteceu com tantos outros amores por aí, ele apenas se foi, nos deixando na solidão.
Pensei com carinho nos caminhos que percorremos, nos sonhos que tivemos e nos planos que traçamos. Pensei com calma nos percalços que passamos, nas ciladas que nos metemos e em todos os anos que juntos ficamos. Percebi com certa tristeza, que não demos cem por cento de nós para sustentar a estrutura, falhamos em pontos vitais e por isso a base não foi solida o suficiente para suportar o peso dos dias difíceis que tivemos.
Dediquei tempo demais ao todo e não me ative aos detalhes, assim como você dedicou tempo demais aos detalhes e não se ateve ao todo. Não equilibramos corretamente a balança e ela pendeu para o lado errado, pesou para o sentimento, pesou para o carinho e abriu espaço para a separação. E tudo foi acontecendo devagar, sem que nos déssemos conta ou sem que quiséssemos perceber para onde o vento soprava. Nos dias de sol e nos dias nublados, nos momentos de alegria e nos de reflexão, sabíamos o que nos esperava, mas não acreditamos na possibilidade do fim.
Não é sempre assim, pois muitas histórias tem um final feliz. A nossa também teve, porque ainda não acabou e vamos recomeçar de onde paramos aquilo que sabemos fazer de melhor, amar.
