Passamos por nossa pior crise nos idos dos anos oitenta e tínhamos apenas doze anos, éramos muitos jovens para compreender o que estava acontecendo e mesmo assim terminamos porque você me viu conversando com a menina da sala ao lado.
Depois disso, passados quatro anos eu já estava com dezesseis e em outro colégio. Encontramos-nos na festa de sua melhor amiga, ficamos e voltamos a namorar. Foram muitos momentos bons e longos três anos de uma relação de alegria.
Com vinte e cinco anos você já estava casada com aquele advogado esnobe que conheceu nas ferias em Buenos Aires e eu ainda as voltas com a Carmen, à dançarina de balé que namorei por alguns meses.
Nos reencontramos no enterro do Zé, nosso grande amigo de farras e bebedeiras. Zé morreu de besteira, fez o que quis da vida e a vida fez o que quis dele. Morreu com um cigarro na boca e um câncer no pulmão.
Conversamos amenidades e você me contou sobre seus filhos, sua vida medíocre ao lado de um advogado de direita e eu só pensava em como as coisas se tornaram diferentes em nossas vidas. Enquanto eu fotografava eventos e publicidade, você fingia que era executiva e badalava roupas de grife por aí.
O tempo foi cruel comigo, as rugas fizeram morada bem cedo no meu rosto e nem os cabelos escaparam, embranqueceram. Você não mudou nada, continuava com a mesma pele sedosa, o mesmo cabelo liso e aqueles olhos verdes que sempre me encantaram. Pena ter se tornado tão fútil.
Quando recebi a noticia de sua morte pensei que fosse alguma brincadeira, mas como foi a sua melhor amiga que me telefonou, só me restou perguntar como e por que.
Fui a seu velório, não consegui olhar em seu rosto no caixão e chorei quando sua filha abraçou seu marido, pois ela era exatamente como você quando tinha doze anos. Lembrei-me de nós, me lembrei de tudo.
A vida nos colocou de novo e pela ultima vez em contato, mas não fui a sua missa de sétimo dia e nem fiquei com nenhuma de nossas lembranças, apaguei-as da memória e joguei fora o que restou.
quinta-feira, abril 19, 2012
Lembrei-me de nós
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