domingo, abril 29, 2012

O primeiro beijo – Por José Pinho Santos

o primeiro beijo

‒ Repara no lado esquerdo e verás a água salgada da ria. Mais quinhentos metros e estamos na Torreira, estou morto para te ter ao meu lado, mais perto de mim…

Como não havia trânsito, nem sinais – qual pisca-pisca – virou para o lado esquerdo, travou e estava o carro estacionado. Abriu a porta, saiu do carro e abriu a outra porta e, daí, saiu a sua Lia.

Olhando um para o outro, abraçaram-se. Ou ele tinha crescido ou ela mingado, tal parecia no primeiro impacto. Deram a mão um ao outro e foram observar a ria. Sentaram-se no paredão, virados para a ria, perto do embarcadouro, com barcos de recreio e barcos de pesca. Não havia ali o moliceiro, o barco característico desta ria.

Olharam ao mesmo tempo para o lado esquerdo e para o lado direito: tanta água! Ergueram os olhos e, daquela margem, contemplavam a outra. Ao observarem-se um ao outro, levantaram-se: a Lia pôs o rosto no ombro dele, as mãos dele delicadamente tocaram o rosto dela. As mãos de um tocavam no rosto do outro. Ambas as bocas abertas, enviesadas. Amélia cravou as unhas nas costas sob a camisa dele. Mil vezes mais rápida: encostou os seus lábios nos lábios dele.

As línguas não se largaram. Carícias nos rostos, os corpos cada vez mais apertados. Ele assentou o joelho esquerdo entre as pernas abertas, apenas o que a saia permitia, com a dobra muito repuxada, subindo tudo o que podia. Ela mexeu-se várias vezes sem complexos. Ele sentiu várias vezes a fendinha dela, um lábio vaginal de um lado, o outro lábio vaginal do outro. O que a sua perna sentia informava o cérebro e, como o corpo é uno, todo ele estava embalado nesta agitação. Com o prazer que ela sentia nestas posições, apertava-o mais, portanto. Também o gozo dele aumentou e aumentou mais quando ela, finalmente, conseguiu apalpar o pincel dele, endireitado! Já não era possível encontrarem-se mais, serem dois num só corpo. Apesar disso tentam, e há pelo menos o prazer que ambos sentem.

Um vento forte pôs-se a assobiar, com cheiro a iodo, e a abanar os barcos, causando pequenas ondas na ria: um ruído suave, acariciante como uma lufada de ar macio, como se veludo lhes fosse passando pelas cabeças… Aquele fiozinho de água, que o vento arrastou depois de embater num rochedo, foi razoável para terem a noção do tempo gasto num beijo. Beijo muito saboroso e princípio lúbrico e histórico. Voltaram a sentaram-se no paredão, mesmo humedecido. Passaram muitos minutos a repararem um no outro: ambos descobriram ângulos distintos que não conheciam.

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