“Trim, trim, trim, trim”
“Trim, trim, trim, trim”
“Trim, trim, trim, trim”
“Trim, trim, trim, trim”
“Trim, trim, trim, trim”.
Porra! Que raios de merda de barulho irritante, só pode ser mulher!
Mulher é que tem essa mania de não acreditar nas coisas e achar que a pessoa pode estar esperando o décimo quinto toque para se certificar que o telefone está mesmo tocando e atender. Mulher acha que a quantidade de toques influencia em alguma coisa e por isso, enquanto aparelho não desiste de gritar, ela continua ali firme e forte tentando fazer com que alguém atenda.
Será que elas não pensam que a pessoa pode ter morrido? Ou sei lá, estar em qualquer outro lugar menos perto do telefone? Chamou, não atendeu, desliga!
“Alô...”
“Oi, boa noite, com quem eu falo?”
“Com quem a senhora gostaria de falar?”
“Não sei, com quem eu falo?”
“A senhora fala comigo e como assim não sabe com quem quer falar?”
“Não sabendo, eu só queria mesmo era falar com alguma pessoa.”
“Porra! Você me faz perder o meu tempo atendendo a sua ligação e nem sabe com quem você quer falar.”
“Saber eu sei, queria falar com uma pessoa, qualquer uma que me atendesse.”
Vai, eu joguei pedra na cruz, cuspi nos pratos da santa ceia e fui muito desobediente no ano passado, só pode para isso estar acontecendo comigo. Não bastasse a merda do telefone ficar berrando insistentemente por horas, agora atendo e descubro que a louca não sabe nem com quem quer falar.
Tinha mesmo de ser mulher, pois são as únicas criaturas que conseguem e se prestam ao papel de ligar para um desconhecido, apenas por ligar, achando isso à coisa mais normal do mundo.
“Já lhe atendi, ouvi que você não sabe com quem quer falar e agora vou desligar porque tenho mais o que fazer.”
“Não, não desliga! Por favor, me escuta!”
“Como? Você quer que eu fique aqui te escutando? Não sou psicólogo ou bom ouvinte e tenho muita coisa para fazer, coisas estas melhores do que ficar aqui conversando com uma maluca.”
“Não sou maluca. Me escuta!”
“Então fala diacho! Você quer me vender o que? Quer me colocar em uma corrente? Quer que eu ajude a sua ONG? Você é da suipa? Médicos sem fronteira?”
“Não, eu sou apenas alguém que ligou para um numero qualquer e acabou sendo atendida, apenas isso”
“E por acaso este infeliz alguém que lhe atendeu fui eu.”
“Sim e é por isso que quero falar com você.”
“Então porque não fala logo.”
“Sei lá sabe, gostei de você e acho que vamos nos dar bem.”
A pior parte de se conversar com uma mulher é quando o instinto maternal delas aflora e elas acham que vão cuidar de você. É um saco isso. Eu, perdendo o meu precioso tempo com uma desconhecida ao telefone e ela com esse papo de que vamos nos dar bem.
Para inicio de conversa, o que ela aprecia eu adoro. Em segundo lugar, se eu quisesse me dar bem com alguém não ia ser por telefone e ainda mais com uma maluca qualquer.
“Filha, fala logo o que você deseja e me livra desse sofrimento.”
“Não sou sua filha, mas dependendo da sua idade, poderia.”
“Cruzes! Ainda não nos foi dado esse poder menina.”
“Como assim esse poder?”
“Querida. Hello. Não podemos engravidar, só vocês.”
“Claro, homens ajudam na concepção.”
“Só que eu amorzinho, não vou ajudar ninguém na concepção de nada. Sai de mim coisa ruim.”
“Como assim? Você não gosta de mulher?”
“Claro, adoro, minhas clientes são vocês.”
“Clientes? O que você faz? É vendedor de joias? De calçados? Roupas? É garoto de programa?”
“Não meu bem, eu sou hair stylist.”
“Hair o que?”
“Ih, já vi que esse papo não vai nos levar a lugar algum, passe bem e faça-me o favor de esquecer o meu numero.”
“Não moço!”
“Não é o inferno! Você já me alugou demais por hoje! Vá se catar!
“ Nossa, que falta de educação! Agora não quero mais falar com você! Tchau!”
“Tu, tu, tu, tu, tu...”
Filha de uma égua! E esse bina desgraçado que não funciona para eu pegar o numero dela e ligar para essa cachorra... Aí que ódio, deligou na minha cara!