- Nove anos que estamos juntos.
- O tempo passa rápido demais mesmo.
- Não estou falando da rapidez do tempo e sim da nossa morosidade.
- Morosidade?
- Você já pensou o que são nove anos? Uma vida! Não seria a hora de darmos o próximo passo?
Senhor aqui está à conta.
- Você sempre foi bom com números, mas parece que hoje está mais preocupado em sair correndo, nem conferiu a conta.
- Não é necessário.
- Você realmente está mudando.
- Já te disse que não é necessário conferir a conta. Jantamos nesse restaurante desde que nos conhecemos, não há a necessidade de checar item por item.
A sua via senhor. Tenham uma boa noite e voltem sempre.
- De táxi não preciso me preocupar com a sua volta.
- Qual o problema em voltar comigo?
- Nenhum, mas prefiro pegar um táxi. Posso?
- Aconteceu alguma coisa? Eu vou te deixar em casa e pronto!
- É tudo o que você quer, despachar a encomenda? Eu pego um táxi.
Amiga acho que você deve tomar a iniciativa. Já que ele não se sensibiliza, não pensa em algo mais, você deve colocar ele contra a parede. Não é possível que depois de nove anos de relacionamento ele continue do mesmo jeito. Alguma coisa tem que ser feita e se ele não faz, que o faça você!
- Você está linda!
- Obrigado, mas acho que você pode economizar os elogios, eu vim aqui para conversarmos.
- Estou tentando não ser tão frio como ontem, segundo as suas palavras, mas me desculpe por tentar.
- Sarcasmo agora? Por quê? Para que?
- Você quer realmente conversar?
- Acho que está mais do que na hora.
- Então fique a vontade para começar e me dizer o que está acontecendo, porque tanta celeuma, o que foi que eu fiz ou que não fiz?
- Esperar que você, depois de nove anos, tivesse outra atitude, foi burrice minha.
Saímos para jantar mais uma vez e para conversar de novo. O Edu é um homem especial, mas frio como uma pedra de gelo. Os únicos sentimentos que ele possui são sobre o cachorro dele e sobre a sua prancha de surfe. Não é possível que eu tenha me apaixonado por um homem desses, mas aconteceu. Incrível pensar que tivemos tantos momentos bons juntos.
Ele nunca foi o tipo de cara que se atira em uma relação, ele sempre se manteve ali, distante, como se estivesse à espera de algo. A cada ano a esperança de que ele pudesse mudar foi diminuindo, aos poucos ele conseguiu me mostrar que jamais se entregaria de corpo e alma aquilo que estávamos vivendo.
Ele celebra o fato de ter alguém e esse alguém sou eu, mas ele não quer compromisso, não quer se prender a ninguém. Sombra e agua fresca, sexo e jantares. Isso não me basta, eu quero mais, seja com ele ou não.
- Você vai entrar de branco?
- Sim, porque não?
- Dizem que só as noivas virgens entram de branco.
- Para quem não queria saber de algo mais sério, o senhor anda se informando demais sobre o assunto.
- Nada, apenas li em desses compartilhamentos de rede social.
- Sei e acredito, você tem realmente esse perfil de quem entra em rede social para ficar lendo sobre casamentos.
- Não posso agora?
- Pode, fique a vontade.
- Agora já sei por que demoramos tanto tempo para chegarmos a esse momento.
