sexta-feira, janeiro 23, 2015

Ponto de interrogação, vírgula e reticencias

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Caiu tanta chuva naquela manhã de domingo, tanta agua, que as ruas alagaram. Carros boiavam na avenida, pessoas procuravam abrigo nos bares, nas lojas e em todos os lugares onde fosse possível escapar daquela chuva torrencial. Uma chuva tão grande, uma cidade tão pequena, uma catástrofe que só não foi sentida por uma pessoa. Ele por mais que quisesse e tivesse que fazer, não estava nem aí para a chuva e caminhava calmamente pelas ruas tomadas pela água.

Enquanto o corpo movia-se como que em transe, a mente trabalhava a uma velocidade impressionante. Milhões de pensamentos por segundo, ideias desconexas, teorias inimagináveis. Ele não tinha noção do que fazer e nem para onde estava indo, ele apenas caminhava sem destino. As lágrimas misturavam-se a chuva, a roupa molhada grudada no corpo praticamente se desfazia e sob os olhares das pessoas que buscavam se abrigar ele continuava a caminhar.

Quando a tempestade passou ele ainda podia ser visto vagando em direção ao nada. As lágrimas se foram com o temporal, as roupas continuavam molhadas e descalço, as bolhas dos pés não incomodavam mais. O cérebro de tantas ideias tortas, já não mais funcionava, não pensava em nada. Ele tornara-se um preso em seu próprio corpo, dependente de pensamentos que não mais existiam, de emoções e sentimentos que ele não mais conhecia.

As tempestades, as chuvas torrenciais, são mais ou menos como os momentos ruins, temos que passar por eles, enfrenta-los. Existem os que fogem, tentam se enganar, iludem-se com esperanças vazias, com referências vagas. Os que encaram as decepções como aprendizado não tem a garantia de não sofrer novamente, mas com certeza sairão mais fortes para enfrentar as próximas.

Encontrado depois de horas, caído já sem vida, ninguém nunca soube o real motivo de sua morte, as consequências que o levaram ao fim. O que se sabe é que enquanto teve forças ele caminhou, enquanto pôde ele tentou, mas não resistiu a grande dor no peito, ao vazio do coração e partiu.

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