- Garçom! A conta, por favor.
- Mas já?
- Sim, amanhã tenho reunião no primeiro horário.
- Mas nem conversamos direito sobre nós.
- Eu sei disso, mas não posso ficar. Realmente precisamos conversar mais, mas não agora, não hoje.
Senhor aqui está à conta.
- Débito, por favor.
- Nossa não estou lhe reconhecendo, você está tão frio.
- Estou e sou o mesmo de sempre. Não vamos começar agora.
- Não estou começando nada, apenas fiz uma observação e sim, você está diferente, está frio, distante.
A sua via senhor. Tenham uma boa noite e voltem sempre.
- Vou te deixar em casa.
- Não precisa, eu pego um táxi.
- Entra, não faz cena.
- Já falei pego um táxi, não precisa se preocupar comigo. Vá descansar amanhã você tem reunião, precisa estar bem.
- Não vou discutir com você aqui, entra no carro, eu vou te levar.
Então os números nos mostram que tivemos um crescimento de trinta e sete por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. Levando em consideração o cenário econômico e as variáveis envolvidas, podemos dizer que nosso crescimento real foi muito maior.
- Tem certeza de que não vou atrapalhar?
- Você não quer conversar? Então, esse é o melhor momento.
- Mudando como o tempo, inconstante como o vento. Não consigo entender você. Ontem frio e distante, hoje calmo e receptivo.
- Era sobre isso que você queria conversar, sobre o tempo, o vento?
- Não, você sabe que não. Quero conversar sobre nós, sobre o que está acontecendo conosco.
- E o que está acontecendo conosco?
- Você, é claro, não percebeu. Idiota fui eu, ao achar que você pudesse ter percebido alguma coisa, afinal, você é homem e como todo homem, insensível, não presta a atenção nos detalhes.
- Generalizações e discurso feminista há essa hora não, por favor.
Saímos para jantar mais uma vez e para conversar de novo. A Mari é uma mulher incrível, mas adora discutir a relação, gosta dos mínimos detalhes de tudo. Estamos juntos desde dois mil e cinco, entre idas e vindas, encontros e desencontros. Ela reclama que não quero nada sério, que já era hora de juntarmos as escovas de dente, dividirmos os lençóis.
Complicado dar conta das demandas sentimentais dela. Quando estou calado, estou frio e distante. Quando estou falante, aconteceu alguma coisa. Mulheres e suas manias, seus jeitos e seus pensamentos loucos a cerca do que não existe.
Ela quer uma aliança no dedo, um pedido e eu quero que ela curta o momento, apenas isso, sem cobranças, sem estresse. É claro que ela é imperativa, fala mais alto, tem sempre razão e eu, pobre coitado, ouço sem poder fazer muita coisa.
- Seus pais vêm?
- Não sei.
- Como não sabe?
- Não sabendo, o coroa é de lua, depois que se enfia naquele barco não quer saber de mais nada.
- Mas é o nosso casamento.
- Mandamos o convite e torcemos para ele aparecer.
- E sua mãe não vai entrar com você na igreja?
- Caso ela venha sim.
- Agora já sei de onde você tirou esse jeito de não se importar com as coisas.