quinta-feira, abril 29, 2010

Morena por opção, loira por vocação

É uma coisa de pele mesmo, quando bate forte não tem jeito. Nasci ruiva daquelas de dar dor nos olhos em dia de sol. O reflexo da luz solar em meus cabelos fazia um enorme estrago nos mais afoitos que corriam para espreitar e admirar, quando eram mulheres invejar, a minha bunda.

Sou gostosa mesmo e assumo, sou dessas de parar o transito com prazer e fazer corar o mais santo dos santos homens. Nem na missa eu vou que é para não desvirtuar o padre e levá-lo para o mal caminho. Sabe como é não freqüento, mas tenho fé.

Perdi as contas das vezes em que fui acusada disso, daquilo e de mais uma montanha de coisas só por ser assim, do meu jeito, sem pudores e nem falso moralismo. Hipocrisia comigo não rola e nem vai rolar, mando logo para aquele lugar porque não tenho a mínima paciência.

Nasci ruiva e virei morena. Fácil não foi, mas difícil também não posso dizer que foi. Normalmente, como quem troca de roupa, apenas fui a uma farmácia dessas que estão em todas as esquinas e comprei uma caixa de tintura.

Foi uma dessas vagabundas mesmo, nem me importei com esse lance de marca, modelo, tipo ou tom de castanho, apenas comprei a porcaria da tintura e meti no cabelo. Muitas outras mulheres, aquelas que estão por aí mendigando um príncipe encantado que não existe, se perderiam em detalhes e acabariam não comprando tintura nenhuma.

Nunca fui de frescura e agradeço por isso, porque se fosse, talvez hoje não tivesse conseguido tudo o que consegui e principalmente esse corpinho todo que me faz feliz. Nunca tive problemas com comida e nem com peso, dietas e outras bobagens. Corro atrás do meu e malho para manter o que já nasceu no formato certo.

Tinta na cabeça, cabelos pintados, virei morena. Por opção mesmo, podia ter escolhido a merda de qualquer outra cor, mas decidi que ia virar morena e virei. Estou pouco me lixando para o que vão falar ou se vai combinar ou não com a minha pele clara. Eu quero mais é que meus 15 minutos de fama durem por bastante tempo, assim eu não preciso me preocupar tanto em aparecer na mídia. Estou morena sim, e daí?

Ser morena tem suas vantagens e eu chamo muito menos atenção do que quando era ruiva, nasci ruiva, mas optei por ser morena. Talvez as ruivas achem isso uma traição a classe e ao código de conduta de uma ruiva legitima, mas se elas soubessem que ser morena não é ruim e nem pega tão mal assim, elas ficassem menos preocupadas com a cor de seus cabelos.

Meninas olhem ao seu redor, apenas isso e se perguntem por que não mudar? Eu acho que vale a pena, mas isso vai de cada uma.

O Danilo me prefere ruiva, mas nem por isso deixa de comer a morena.

Nos conhecemos bem no começo, quando eu nem ainda pensava em ser quem sou. Minhas únicas aspirações nesta época era ter dinheiro para o silicone e que a bunda não caísse antes dos 50, de resto nada demais. O trabalho de manicure do salão da Ester me dava acesso às celebridades B do teatro e da TV, os figurantes, os pontas e aqueles que fizeram apenas um ou outro papel em alguma novela das outras emissoras.

Os galãs de verdade usavam os salões mais caros da cidade e claro que não o da Ester, que era onde eu tirava o meu sustento. Eu moro sozinha desde os 16 anos quando resolvi que ia ser advogada e coloquei na cabeça que precisava de espaço e paz para estudar. Eu queria mesmo era poder sair sem hora para voltar, levar meus namorados para dormir e transar e melhor ainda, poder comer aquilo que bem entendesse sem ninguém para encher o meu saco.

Nos primeiros meses tive a ajuda do papai e da mamãe, mas depois do oitavo mês consegui o emprego no salão da Ester e decidi que eles não precisavam mais pagar nada para mim. Ganhava uma merreca e quase nem sobrava para os finais de semana, mas eu era feliz assim mesmo. O Danilo me conheceu na rua.

Eu contava as moedas para comprar um lanche, estava atrasada para a aula na faculdade e ele, assim como todos os homens, depois de admirar por mais de meia hora a minha bunda, decidiu que era hora de se aproximar e falar uma gracinha. Nem ouvi o que ele disse, estava tão preocupada com as moedas e só me dei conta de que ele perguntava se eu queria o suco com açúcar ou adoçante quando ele tocou no meu braço.

Estranhei e sentamos para conversar. Ele foi super agradável, mas já estava ficando enjoada daquele papinho idiota dele e disse logo que se ele estava afim de mim que era para falar. Ele falou que sim e estamos namorando até hoje.
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