sexta-feira, março 23, 2012

O muito que podemos receber

o muito que podemos receber

- Vamos repensar os fatos e cortar o barato de tudo o que não faz mais sentido. Abrir a boca e soltar o verbo, sem pensar em nada e desejando o muito que podemos receber.

- Invariavelmente você sabe que iremos sofrer.

- Sei apenas que uma pequena parcela também sofre todos os dias e mesmo assim se levanta e caminha. Segue em frente.

- E porque não fazemos o mesmo?

- É o que você deseja?

- É o que você almeja? Um futuro ao meu lado?

O futuro não se materializou nas telas da vida e como pintura inacabada aquela promessa de um grande amor, ficou apenas no discurso de dois jovens inconseqüentes e apaixonados.

Ele a conheceu na faculdade, ela cursava economia e ele pensava em ser bibliotecário.

Sem nenhuma intimidade com os livros, achava mais fácil e menos penoso não ter que pensar em números ou ter apenas que se preocupar o mínimo possível com eles.

Ela fazia planos de um mundo melhor com condições iguais para todos, uma melhor distribuição de renda e uma economia participativa. Formou-se em 1990. Ele nunca terminou nada do que começou.

Reencontraram-se em 2002, ela casada com um advogado tributarista e ele desempregado, dentro de uma agencia da Caixa Econômica Federal. Enquanto ele esperava na fila pelo resquício de seu último FGTS, ela negociava a compra do terceiro imóvel da família.

Trocaram olhares distantes e se reconheceram como se estivessem ainda em 1989. As palavras, as promessas e todo o passado que um dia teve pretensões de se tornar futuro veio à tona. Ela deixou que uma lágrima lhe corresse o rosto.

Ele abaixou a cabeça e saiu da agencia sem o seu dinheiro. Andou pelas calçadas como que a pensar no nada em que o tudo se transformou e não viu a luz crescente a sua frente.

Ela foi a primeira a chegar ao local do acidente e se identificando como o grande amor de sua vida, reconheceu o corpo e sem derramar nenhuma lágrima, o beijou pela última vez.

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