quarta-feira, março 28, 2012

A vida não se curva aos planos

a vida nao se curva aos planos

Os carros que cruzam a via se misturam a paisagem em um balé de cores que faz o vermelho fundir-se ao prata, o amarelo se tornar verde no encontro com o azul e todo o resto mais ficar disforme e sem sentido.

- Você está distante ou é impressão minha?

- Nos reencontramos ontem. Eu e ele, como nos velhos tempos.

- Pela sua indiferença com tudo o que eu disse na última meia hora, nem precisa me contar os detalhes, já os sei de cor. Vou arrumar minhas coisas.

Poderia ter pedido para que não fosse embora, dito que nada aconteceu e que foi apenas um encontro de dois amigos após tanto tempo sem se ver. Não foi nada disso, ficamos juntos aquela noite e eu nunca amei o Augusto.

O conheci em mais um desses programas enfadonhos de debate, para o qual fui chamada a fim de teorizar sobre as expectativas depositadas em cima dos filhos enquanto eles ainda não têm noção de nada a sua volta. O Augusto era um dos debatedores e me olhou de forma tão fixa e insistente, que resolvi aceitar o seu convite para jantar.

Depois da massa achei que ele poderia me fazer esquecer o passado, mas estava enganada e durante todo esse tempo a única coisa que fiz foi pensar nele. O nosso reencontro foi algo inesperado e não me sai da cabeça a forma como ele me tratou, não foi frio.

Estamos casados, eu estava até agora, e ele em nenhum momento demonstrou arrependimento por estar ali comigo. Ao mesmo tempo também não fez parecer que era apenas mais uma transa, como as que ele deve ter com as secretárias da construtora ou com as madames que compram seus apartamentos.

Ele estava lá, de corpo e alma e era real. Foi real…

Quando as coisas explodem dentro do peito e emocionalmente passamos a viver um mar de sentimentos desconexos e confusos, o melhor a se fazer ou na minha ótica o mais honesto, é admitir o que sente. Se não ama mais, nunca amou ou perdeu a capacidade de gostar, diga isso e permita que essa pessoa encontre a felicidade com outro alguém ou sozinha.

Fazer inúteis concessões e mascarar os fatos é tão somente uma forma de desgastar ainda mais o que já não tem conserto. Viver a irrealidade de uma relação fracassada é um modo tolo e que não funciona, de tentar ser feliz.

Ela sempre o amou e não seria Augusto, com todo o seu romantismo que a faria deixar de amá-lo. Ela se deixou conquistar, mesmo que nunca tenha sido de fato. Ela se deixou envolver, mesmo que nunca tenha se envolvido de verdade e o pior de tudo, permitiu que Augusto se apaixonasse e alimentasse esse amor.

Dizem que o outro sempre sabe que não é amado na mesma medida e que se deixa iludir na esperança que o tempo faça com que a outra pessoa também se apaixone. Infelizmente a única coisa que o tempo faz é com que ambos se acomodem e o que seria um amor, uma paixão, se transforma na união de dois seres que se gostam, mas não se amam como um casal.

O amor fraternal existe e até a satisfação das “necessidades carnais” acontece, o sexo não deixa de existir. Quando se deitam e transam, não fazem amor ou sexo selvagem, cumprem a obrigação que um pensa ter com o outro.

Talvez ela nunca mais reveja seu grande amor e ainda precise se encontrar com Augusto algumas outras vezes para resolver coisas pequenas. Devolver os livros, os discos e as lembranças que o tempo e ela vão tentar apagar. Talvez ela não se envolva novamente com outro homem e quem sabe prefira a solidão.

Porém a vida não se curva aos planos e a todo instante se modifica e nos surpreende. Porque não, ela não pode amar e ser amada outra vez?

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