sábado, outubro 10, 2015

Meu próprio inimigo

inimigo de mim

A parede nunca esteve lá e isso sempre foi bom. Paredes sempre foram frias, independente da cor ou dos adornos. Paredes servem para dividir, não para unir. A parede, que nunca esteve lá, habitou meus sonhos por anos a fio sem que eu me desse conta de sua existência. Ela aparecia em formas diversas, transmutando-se como molduras, pratos, copos, cadeiras e outros objetos. Minha parede imaginária, que na realidade nunca existiu, era tão presente em meus sonhos que decidi dar vida a ela. Comprei os materiais, preparei a sala, montei o circo e em algumas horas a parede estava lá, sólida e firme.

Reli os livros do ano passado, ganhei mais dois novos exemplares do mesmo semanário e sinto-me feliz por ter do que reclamar. Os livros mais chatos que já li dei de presente a mim mesmo mais uma vez. Em frente à parede coloquei uma linda poltrona de leitura, uma mesa para o chá, relógio para despertar e músicas para escutar. Troquei os vinhos pela agua, à agua pelo suco e o suco pelo vinho. Voltei aos mesmos hábitos, às mesmas manias, a mesma chatice. Voltei a ser o que sempre fui, esse cara sem graça e sem vontade de mudar.

A parede nunca esteva lá, mas eu sim, sempre estive e esse sempre foi o problema. A parede nada mais era do que uma representação de mim, por todo este tempo fui a parede que dividiu a minha vida. Não importava a cor, não importava o tempo e nem a forma, sempre fui a parede fria, detestável e inútil. Em meus sonhos o que eu não enxergava, mas que estava ali bem embaixo do meu nariz, era que a única coisa que me impede de ver o outro lado sou eu.

Imagem do post: Tumblr / Positively Noteworthy

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