Uma pausa no café da manhã foi providencial para que as fortes chuvas não fossem mais sentidas. Os raios ainda podiam ser ouvidos a distancia e a água torrencial que caía sobre os telhados não dava indícios de que ia cessar tão cedo sua trajetória.
O fato é que eu não me acostumei com isso de que tudo tem que ser do jeito que as pessoas acham certo, passando por cima de tudo e de todos. Se o certo é fazer as coisas do meu jeito, porque eu ainda convivo em sociedade com os demais? Esse tipo de gente que se acha superior a regras, leis e a tudo o mais, merece sofrer as sanções cabíveis aos seus atos.
Essas sanções tem um problema, não surtem o efeito desejado, pois são aplicadas de forma incorreta. Fossem elas aplicadas com rigor e para todos aqueles que merecem, elas teriam grande eficácia.
Ver essas pessoas achando-se na razão por terem sido contrariadas é ridículo e soa como se eu estivesse assistindo a um surreal espetáculo de profundo mal gosto.
Tem aquele que acha que é mais do que qualquer um e por isso pode furar a fila do elevador, ou aquele que se julga o VIP e quer sentar na janela. Mais do que isso, são os diversos tipos de imprestáveis que estão fazendo hora no mundo à espera de quem os leve para bem longe. Para esses a morte pode ser um prêmio.
Sem colarinho, por favor,
É o típico caso do infeliz, e que se foda o gosto pessoal de cada um, que resolve se arrumar, sair de casa, sentar-se à mesa do bar, pegar cardápio e escambau para pedir apenas um chopp. Isso mesmo, o sujeito toma o tempo do garçom bebe o seu chopp e vai embora. Não bastasse, ainda paga a conta com cartão de crédito e pede nota.
Não sou contra aqueles que bebem um chopp na volta para casa, antes de ir à praia ou quando simplesmente estão com vontade de beber um chopp. Fico puto apenas com aqueles que fazem disso um ritual como se beber um único chopp precisasse de tanta frescura.
Quem quer beber um chopp para no balcão, pede um, toma e vai embora. Paga com uma nota de cinco o chopp de quatro e deixa o troco para o garçom. Mais simples do que isso impossível.
Quem quer beber mesmo às vezes fica em pé no balcão, mas na maioria das vezes senta-se à mesa pede um aperitivo e manda descer meia dúzia de estupidamente gelados. Agora fazer palhaçadinha para tomar um misero chopp, faça-me o favor.
A pressa pode ser amiga dos perfeitos
Como esse dia ainda não chegou, eu não entendo o que uma pessoa ganha querendo ser mais rápida que a outra em coisas sem o menor sentido. Na formula um vá lá, até o Rubinho tenta ser mais rápido que os outros pilotos.
Aí todo mundo dentro do avião vai descer no mesmo aeroporto e logo que a aeromoça pede para que os cintos permaneçam afivelados, pois o piloto vai proceder ao pouso, tem idiota se preparando para ser o primeiro a descer. De certo ele tem um horário super rígido e não pode perder um minuto dentro da aeronave.
Dentro do trem ou do metrô, o que mais vejo são pessoas desesperadas vindo lá dos vagões dos confins, mesmo que em todos existam portas que vão se abrir da mesma forma, apenas para estarem mais a frente na hora de descer na estação final. Todos os passageiros vão descer na mesma estação, não vejo motivo para que alguém queira ser o primeiro a descer. Claustrofobia?
Os centavos que me pertencem
Quer parada mais chata do que neguinho que fica contanto o que bebeu e ou o que comeu para não pagar nada além? É uma coisa de outro mundo isso.
Aí ficam um monte de pessoas, em uma mesa enorme, divagando sobre o preço do suco de laranja que é mais caro que o refrigerante de limão. Debatendo se a sobremesa deve ser incluída na conta coletiva, visto que metade da mesa meteu a colher na mesma, ou se só a metade que meteu a colher deve arcar com seu custo.
No fim os migalheiros, que não vão ficar mais ricos com as migalhas economizadas, pagam um ou dois reais a menos do que todo o resto. E o pior é que eles se sentem maravilhosamente felizes com o fato de não terem pago o cafezinho que a loira mão de vaca do RH tomou.
O que eles não se dão conta é que com isso todos perderam preciosos minutos em uma discussão sem sentido algum. Não sou contra que cada um pague a sua parte, desde que as coisas realmente fujam do controle, mas em geral em almoços mais formais, de trabalho, as coisas não fogem do controle. Ninguém bebe litros de chopp e ou come o prato mais caro do restaurante.
Aqui é o meu lugar
Então para de reclamar porra!
A cena é clássica. A pessoa vai à loja compra aquela roupa especial, para a ocasião especial e quando vai vesti-la percebe que engordou um pouco. O que ela faz?
Começa a reclamar da vida, do açúcar do cafezinho, veste a roupa mesmo assim e quem estiver por perto é que ature suas lamurias. Ou então é aquela pessoa que odeia a casa da tia Maricotinha, vive falando horrores da coitada e do seu sofá cheio de remendos, mas não sai de lá.
Se alguma coisa está lhe incomodando você tem todo o direito de falar e mudar, não de ficar interminavelmente falando sem esboçar nenhum sinal de que quer mudar.
Chato de galocha
No fim das contas eu é que estou chato demais e de saco cheio para um monte de coisas. Se antes a tolerância era maior, hoje ela muda de acordo com as marés. Não tenho mais vontade alguma de ser o cara que não liga para as coisas, mas muito menos vou ser o cri-cri que reclama de tudo.
Continue fazendo o seu ritual para beber um chopp, querendo chegar na frente, juntando suas migalhas e reclamando do que lhe convier. De minha parte o máximo que vou fazer, é quando der na telha, escrever um monte de bobagens como essas que você acabou de ler e pronto.
