sexta-feira, abril 24, 2015

Minha escolhida

minha escolhida

Ela levantou da cama apenas de calcinha e não sentiu frio. Colocou os pés descalços no porcelanato e não sentiu frio. Ela estava semi vestida, usava apenas a parte de baixo do conjunto, uma linda calcinha de renda vermelha e mesmo assim, não sentiu frio. Essa foi a mulher que escolhi, a mulher que elegi como companheira dos meus dias alegres e dos meus dias tristes. Uma mulher como ela não se encontra em qualquer lugar e eu dei a sorte de acha-la antes que outro o fizesse.

Desconfio, porém, que poucos sabem reconhecer uma perola no meio de tantas pedras sem valor algum. Eram várias e vários, o ambiente fedia a tabaco, nicotina, álcool e bala de menta extra forte. Uma combinação horrenda, mas que é praxe. Entrei sem fazer muito alarde, desviei de meia dúzia de engravatados no hall, passei por moças de sorriso fácil e aboletei-me com algum esforço no balcão do bar.

Três gins tônica depois já me acostumava com a gritaria, o som estridente da música e todos os barulhos daquela selva que chamavam de Refugio, a boate mais cara da cidade. Entrar ali era para poucos, mas parecia que eles haviam aberto uma exceção ao mundo justamente aquele dia, pois eu tinha a certeza de que mais da metade da população mundial estava ali, espremida, mas estava.

Respirei fundo antes de por os olhos na pista, girei o rosto devagar e procurei focar em um ponto distante para a partir dele, pesquisar o ambiente e tentar encontrar algum resquício de novidade. A mesmice de rostos, perfis, estilos, era o que me fazia evitar a noite e suas armadilhas. A loira de batom vermelho, a morena de salto alto e saia curta, o descolado de calça chino, os malhados e seus bíceps, enfim a fauna noturna habitual.

Em pé com uma postura natural, segurando uma taça de um drinque feito com espumante, que mais tarde identifiquei como sendo um Bellini, estava ela. Alta devia ter um metro e setenta, cabelos soltos, sobrancelha um pouco arqueada, lábios molhados, nariz afilado e rosto geometricamente desenhado. Analisei os detalhes, verifiquei ao redor e ela estava aparentemente sozinha, uma peça única como àquela sozinha em meio à horda de selvagens que vagava por ali.

A abordagem não podia ser convencional, ela não era convencional. Uma chance, eu teria apenas uma única chance para fazê-la perceber que eu não era mais um e sim aquele que a salvaria daquele lugar. Uma chance e eu não a desperdicei. Da pista para o bar, do bar para a varanda, da varanda para a rua, da rua para o carro, do carro para minha casa e enfim em meus lençóis.

Renda vermelha, ela usava um conjunto de renda vermelha.

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