sábado, março 07, 2015

Amor com sexo 2

amor com sexo

Começamos uma guerra de opiniões contrarias, argumentos inconsistentes e muita excitação. Nós dois ali, conhecendo o mundo, a vida, nos descobrindo de verdade e tudo aquilo acontecendo, o caos se instaurando em nossas vidas. A viagem, aquela viagem, que tinha tudo para ser a de nossos sonhos, tornou o tormento de nossa existência. Nada fazia você mudar de ideia, nada me tirava da cabeça os pensamentos imprecisos. Foi preciso dar um tempo, nos abandonarmos, para que pudéssemos voltar a ser o que éramos, mas nunca voltamos.

Dezessete de março de mil novecentos e noventa e dois, você ainda tinha o sonho da grande entrevista e eu era apenas o cara da fotografia. Dezenove de março de mil novecentos e noventa e três, você não havia ainda conseguido a grande entrevista e eu continuava a ser o cara da fotografia. Vinte e três de março de mil novecentos e noventa e quatro, você era a editora chefe do jornal, mesmo sem a grande entrevista e eu, não era mais o cara da fotografia, você me demitiu alegando corte de despesas. Impressionante como a conta estoura sempre no pessoal da fotografia. Parece que qualquer um pode tirar uma boa foto de um acontecimento ou cobrir um evento com uma Kodak qualquer e um fotografo a menos, não faz a menor diferença.

Compartilhávamos coisas em comum. A grande editora chefe e o agora fotografo de casamentos e festas infantis gostavam das mesmas coisas e uma delas era viajar. Você visitou alguns estados, eu visitei outros e dessas visitas nasceram assuntos, temas, que debatemos por longas noites ao telefone e nas rodadas de Chopp com os amigos em comum. Você não era mais a chefe e eu não era mais o empregado, éramos um homem e uma mulher, com desejos, que afloravam cada vez que nos víamos ou nos falávamos. Daí para descobrirmos que tínhamos que ficar juntos foi um pulo, ou melhor, um salto e alugamos um apartamento em Copacabana.

Da janela eu tirava fotos do calçadão entre uma mãe chata e seu filho pequeno e um casal de noivos indecisos. Você chegava tarde do jornal, as coisas não estavam boas, mas mesmo assim planejávamos aquela viagem, que seria a viagem. Compramos mochilas, roupas confortáveis, fizemos um belo estoque, tínhamos mapas, roteiros e o que nos faltava aconteceu.

Demitida do jornal nada mais nos prendia e seguimos nosso sonho. Começamos pela América do Sul, passamos pela Europa e estávamos na Ásia quando a guerra começou. Eu jurava que era amor e tinha de ser assim, mas você insistia que era apenas tesão. Como explicar que depois de tudo não tínhamos mais desejo um pelo outro? Nos meus pensamentos o amor superava tudo, inclusive o sexo ou a falta dele. Nos seus pensamentos o sexo não poderia deixar de existir, mesmo com muito amor.

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