segunda-feira, maio 07, 2012

Morre o corpo

morre o corpo

- Você comprou as passagens? Reservou o hotel?
- Reservei o melhor da cidade e comprei as passagens para o dia 16. O senhor está certo dessa viagem?
- Tão certo como dois mais dois são quatro. Nunca estive tão consciente de uma decisão como estou dessa, não se preocupe, sei o que estou fazendo.
- É claro que sabe, mas mesmo assim me preocupo com sua decisão tão repentina de abandonar o país, sua família, seus amores e tudo o mais. Você sabe o quanto todos irão sofrer e esse sofrimento pode ser evitado.
- Só tenho mais alguns meses de vida e não vou me dar ao luxo de fazer com que eles assistam minha morte, quero e vou morrer longe de todos. Já fiz muitas coisas nessa vida e essa é uma das últimas coisas que quero fazer enquanto ainda posso, deixar na memória de todos minha melhor imagem.

Três dias depois, em vinte de abril de 1996, ele veio a falecer vitima de falência múltipla dos órgãos. A viagem, não recomendada pelos médicos, foi fatal para seu combalido estado de saúde e assim que pousou na capital francesa ele foi internado.

Nunca foi um homem amargo e descontente com a vida, como muitos esperavam que ele fosse depois que descobriu que tinha uma doença incurável. Continuou a sorrir e curtir os prazeres da vida, seguindo sempre as orientações médicas a risca.

Deixou viúva sua esposa de quarenta e cinco anos, com quem teve dois filhos. Um rapaz de vinte anos e uma moça de vinte e três. Para os três não deixou dinheiros, bens ou coisa que o valha, mas ao mesmo tempo não deixou dividas, pendências ou problemas.

Morreu o corpo, permaneceu a obra. Foi sepultado e enterrado no interior de Minas Gerais, sua cidade natal e ali permanece até os dias de hoje.

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