quinta-feira, dezembro 22, 2011

Suzana 2

suzana 2

Com o diploma em uma das mãos, a bolsa na outra e no pensamento a certeza do dever cumprido, Suzana desembarcou na estação central rumo ao prédio mais alto da cidade. Cinqüenta e cinco andares a separavam de seu destino e elas os transpôs dentro do imponente elevador espelhado que conduzia mentes iluminadas e outras nem tanto, todos os dias.

Três toques na porta e uma linda loira trajando um tailleur impecável a atendeu recomendando que esperasse em um imenso sofá aveludado. Suzana não estava preocupada em pensar nos acontecimentos que a levaram até aquele momento, ela pensava em como as coisas eram lindas e limpas. Tapetes brancos e macios, mesa organizada e livros na estante dispostos em ordem alfabética.

Duas horas e meia depois e já cansada de tanta espera, Suzana foi chamada ao salão principal. Caminhando com tranqüilidade, ajeitou o vestido, cuidou do generoso decote e sorriu quando sentou de frente para seu interlocutor.

- Passado, presente e futuro em um só paradigma. Teorias escritas a partir de fragmentos dispersos. Comente.
- Com base fundamentada em Backydrington posso afirmar que os sentidos de espaço e tempo não competem entre e si, muito menos se encontram na porção exata do todo. Eles apenas tentam coexistir, mas por meros segundos poderiam ser descritos em conjunto. Diria milésimos de segundo, menos ainda.
- Fragmentos?
- Não tão dispersos. Como já disse, milésimos de segundo separam as noções e a temporalidade é sentida no todo como que maior do que realmente é.
- Podemos então dizer que o agora em uma fração de milésimos de segundos foi o futuro e será o passado?
- Sim e não. Você está certo em parte, mas errado também. Não podemos trabalhar com essa noção espacial ou com diz Backydrington: “O tudo nos leva ao nada e o nada não é tudo. Existe algo mais”
- Perfeito. A vaga é sua. Você começa amanhã.

Com imenso sorriso no rosto Suzana desceu os cinqüenta e cinco andares que a separavam da recepção novamente dentro do elevador espelhado e enquanto se olhava no espelho e sorria, foi rasgando devagar cada parte de seu diploma. Encostou-se ao balcão do bar mais próximo, pediu uma dose da cachaça mais vagabunda que houvesse no estabelecimento e depois de tomar três doses da mesma praguejou em alto e bom som todos os anos gastos em horas de estudo.

Gargalhando pagou a conta, caminhou alguns metros e jogou os restos de seu diploma rasgado no lixo. Atravessou a rua e parou no meio dela, foi atropelada por um caminhão que não conseguiu se desviar. Morreu ali mesmo, comprovando que sempre existe algo mais.

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